terça-feira, 25 de setembro de 2012

Miniaturas expõem arte e primor do velho jangadeiro


Reconhecido como Mestre da Cultura Popular, José Pereira de Oliveira, 87 anos, ainda produz todos os dias


O artesão começou a produzir os objetos com 50 anos, quando não pôde mais pescar

Aquiraz No manuseio de pequenas madeiras de timbaúba, o ancião chega a assemelhar-se a uma criança, construindo um novo brinquedo. Mas, numa análise mais atenta, observa-se o peso da maturidade, que se manifesta na meticulosidade dos detalhes, precisão de símbolos justapostos e graciosidade do produto. Trata-se do artesão José Pereira de Oliveira, 87, uma das personalidades cearenses agraciadas com o título de Mestre da Cultura Popular, nascido e criado na Prainha, litoral de Aquiraz.

Apesar da idade, Oliveira não abre mão de seu trabalho artesanal todos os dias. As réplicas das jangadas são de quase todos os tamanhos. No entanto, o encantamento é maior entre as miniaturas, as mais procuradas por turistas e comerciantes que lidam com os souvenirs e objetos de decoração de ambientes.

O ofício de artesão começou quando já não mais podia pescar, por conta de uma doença que comprometeu sua visão. Como nos tempos de criança, costumava fabricar pequenas jangadas para brincar no Rio Maceió, que desemboca naquele trecho do Litoral Leste do Estado.

Chegou a cursar até a quarta série, mas teve que interromper os estudos com a morte do pai. Assim como os irmãos, foi buscar a subsistência no mar. "Eu podia ter tentado a agricultura. Mas, os homens da minha família eram pescadores e eu segui esse ofício", conta.

Juventude

Nos tempos de sua juventude, a principal fonte de subsistência era a pesca, obtida com a jangada, que singrava o mar sempre na incerteza de se haveria boa pesca, ou até mesmo se a embarcação resistiria às mudanças súbitas de humor das marés. Assim, continuou pescador até os 50 anos de idade, quando ficou doente e não pôde mais ir ao mar. Para sustentar a mulher e os oito filhos, lembrou-se da antiga brincadeira de produzir jangadas. Daí que começou a vender, ser procurado por comerciantes de artesanato e ganhou fama pela qualidade de seus trabalhos.

Oliveira mora na Rua Damião Tavares, onde criou os filhos e, ainda hoje, boa parte dos netos. Na Prainha, via a transformação radical pela qual o lugar passou.

De uma antiga aldeia de pescadores e referência maior da mulher rendeira para uma praia com uma ocupação desordenada e com o setor imobiliário valorizado. Com isso, a pesca, renda de bilro e outros manifestações artesanais foram postas de lado e, até mesmo, negligenciadas pelas novas gerações.

Identidade

O dano maior, conforme avalia, se deu nas pessoas do lugar, da perda da identidade simples. "É triste ver os jovens envolvidos na droga e na prostituição. Mais triste é saber que existe solução para essas pessoas, que é o trabalho", afirma. Oliveira não apenas trabalha para ocupar o tempo, mas porque é consciente de que o primor do que se faz pode ser sempre melhorado.

Com o titulo de Mestre da Cultura, ganha um salário mínimo por mês. Além disso, recebe ajuda dos filhos, mesmo aqueles que moram distante e em outros Estados. Ainda se reúnem todos os anos em torno do patriarca.

Legado

"Meu legado maior foi a criação de meus filhos. Mais do que um pai, procurei ser um educador rígido, ensinando pelo diálogo e o exemplo. E assim formei uma família num alicerce forte", diz o artesão, lembrando que ainda sente muita falta da esposa, Auristide da Costa Olivera, com quem viveu 58 anos. Ela faleceu há menos de dois anos.

Para o jornalista e pesquisador da cultura popular, Gilmar de Carvalho, é justo o reconhecimento que se faz a Oliveira. "Fui convidado pela Secult para escrever sobre os mestres", conta. Gilmar lembra que ficou comovido com a delicadeza com que o artista faz as miniaturas.

"Difícil para um homem da idade dele manter a precisão do corte, as minúcias dos detalhes e dar forma a este mundo da pesca artesanal, que está em extinção, infelizmente", ressalta. Na opinião de Gilmar de Carvalho, Oliveira é um grande artesão, pois ajuda a preservar a memória das velhas jangadas de piúba, aquelas que são cantadas em prosa e verso, desde José de Alencar.

"Ele trabalha com a precisão de um relojoeiro, com a perícia de um cirurgião, e nos leva a um mundo encantado, que é trabalho e jogo, vida e brinquedo", destaca. Observa que o reconhecimento veio, em parte, por conta do título de mestre, que ainda é pouco para a grandeza do que José Pereira de Oliveira ele faz.

RECONHECIMENTO

"Ele trabalha com a precisão de um relojoeiro, a perícia de um cirurgião, e nos leva a um mundo encantado"

Fonte: Diário do Nordeste

Gilmar de Carvalho
Jornalista e pesquisador

MARCUS PEIXOTO
REPÓRTER

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Justiça obriga pescadores a desmontarem acampamento em Belo Monte


Com o apoio de entidades contrárias à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, cerca de 70 pescadores montaram acampamento desde a última segunda-feira (17) em uma ilha próxima ao Sítio Pimental, uma das frentes de obra do empreendimento. Na quarta-feira (19), o grupo interrompeu a circulação em um trecho do Rio Xingu, o que levou a área jurídica do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) a acionar a Justiça, por meio de pedido de tutela antecipada. O pedido foi deferido pela 1ª Vara Cível de Altamira e um oficial de Justiça, acompanhado pela Força Nacional, foi ao local para determinar a saída dos pescadores.

Representante da Colônia de Pescadores Z-57, Jackson Luiz Nogueira Diniz disse à Agência Brasil que o ato é pacífico, mas que, após a chegada do oficial, os pescadores começaram a deixar o local. “Ele [oficial de Justiça] chegou com a Força Nacional, e já foi ordenando a nossa saída e dizendo que, se continuarmos com o acampamento, teremos de pagar uma multa de R$ 5 mil por dia. Como não temos condições de pagar [esse valor], vamos atender o que determinou a Justiça”, disse.

A decisão da Justiça foi tomada após os pescadores bloquearem o rio com suas canoas, impedindo a passagem da balsa da Norte Energia. O CCBM garante que a ocupação não chegou a prejudicar o andamento das obras, mas dificultou o despejo de rochas na ponta da ensecadeira (barramento de parte do rio, feito para facilitar construções em áreas não alagadas) em Pimental.

Entre as reivindicações apresentadas à empresa, os pescadores pedem a mudança da colônia para uma área próxima ao lago que será construído, com a barragem; estímulo a mercados para a venda de pescados, além de indenizações e compensações. “A pesca na região já diminuiu, com o início da obra”, disse Diniz.

Fonte: Agência Brasil

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Seleção Pública de Projetos - Petrobras Desenvolvimento e Cidadania


O Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania 2012 já está com as inscrições abertas para o processo de seleção pública, e você tem uma nova oportunidade de ter seu projeto contemplado. Serão contemplados projetos nas seguintes linhas de atuação:

• Educação para Qualificação Profissional;

• Geração de Renda e Oportunidade de Trabalho;

• Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Com o objetivo de ampliar a transparência e esclarecer dúvidas, desde 2006, uma equipe de técnicos da Petrobras percorre dezenas de cidades em todo o país para apresentar o processo seletivo, seu regulamento e o roteiro de elaboração de projetos.

Contamos com sua participação.

Divulgue, participe!

Para mais informações, acesse o site da Seleção Pública.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

CE - Crianças ilustram livro sobre ´causos´ de pescador




Sempre transmitidas pela oralidade, as histórias antigas dos povos do mar do Ceará começam a receber registros escritos por seus próprios coadjuvantes. Os causos do pescador Antônio Miolo, da Praia de Canoa Quebrada, ganham páginas de livro, com ilustrações feitas por crianças, sobre as peripécias porque passou o antigo trabalhador, entre o real e o fantástico.

Cada narrativa é ilustrada por desenhos feitos com lápis de cor pelos garotos Felipe, Lana, Tomas, Anderson, Lázaro, Pedro, Bruna e Lucas, da própria comunidade

Nelas as narrativas de um povo que vencia as adversidades sociais convivendo com a natureza e uma imaginação fértil. O livro "Miolo de Pote" traz um pedaço do saber e da experiência de vida dos pescadores que, assim como os sertanejos da região Nordeste, encontram no meio de um dia difícil algum motivo para uma boa risada.

Os causos do pescador Antônio Pereira da Silva, mais conhecido como "Antônio Miolo", davam-se geralmente quando ele voltava do mar e tinha a sua esposa Maria Borges, a "Maria Miolo", de testemunha (ou cúmplice). Como lá deixaram seus filhos, netos e bisnetos, as histórias não cessam.

Labuta

Certo dia, voltando de uma trabalhosa labuta no mar, Antônio Miolo encostou na areia com a jangada cheia de peixe. O que não ficou para comida em casa, foi vendido às mãos de comerciantes. E como pescador completo não apenas pesca, mas "trata" (corta e abre) o produto, pediu à mulher uma bacia e foi à mesa. Quando abriu o bucho de um cação de quase cinco quilos, deixou cair debaixo da mesa um punhado de ovas do peixe.

Colocou tudo que tinha em mãos para cozinhar, mas reparou que sua galinha chocadeira ciscava onde caíram as ovas. Dias depois, no meio de um domingo, seu Miolo percebeu que da ninhada da galinha Griselda havia cinco novos pintinhos, quatro deles "caçãozinhos, balançado as barbataninhas e soltando uns piadinhos diferentes".

Os registros revelam um homem que convivia com a natureza, tinha uma família grande, mas com seus "acontecimentos" não deixava a rotina tirar o brilho das histórias. As idas e vindas para o mar eram entrecortadas por histórias vividas a maior parte em casa, em meio às dunas e falésias de Canoa Quebrada.

Luta

Como no dia em que conseguiu roubar tanto mel de um cacho de abelhas que foi possível encher um balde. O machado usado na "luta" com as abelhas ainda estava sujo de mel e ficou em cima da mesa. O balde com o mel, deixou no telhado, para as formigas não alcançarem. Pois tanto alcançaram apenas o machado melado na mesa que deixaram somente o cabo, devorando a ferragem.

Ilustração infantil

As histórias foram organizadas pelo arte-educador Tércio Vellardi, presidente da Organização Não Governamental (ONG) Recicriança, e pelo jornalista e historiador Túlio Muniz. Cada narrativa é ilustrada por desenhos feitos com lápis de cor pelos garotos Felipe, Lana, Tomas, Anderson, Lázaro, Pedro, Bruna e Lucas. À exceção de Túlio, todos moram na comunidade dos Estêvão, um povoado na Praia de Canoa Quebrada e onde morou o pescador Antônio Miolo.

"Podemos também dizer que a engenhosidade de Miolo denota, sobremaneira, a criatividade dos habitantes locais, profundamente marcados pela oralidade indígena que cria e recria seus personagens num universo mágico, fantástico", afirma Túlio. O livro tenta materializar o que a oralidade transforma a cada nova geração. E pela própria comunidade dos Estêvão ficam outros resquícios da presença de Antônio Miolo.

Como a falésia em que ele batizou de "Mentira" um ovo depositado por um pássaro Albatroz que, horas antes, disputou no mar com ele um peixe fisgado no anzol. "Esta área é pra ficar isolada, vamos proteger o nascimento deste passarinho e batizá-lo com o nome de ´Mentira´, pois ninguém vai acreditar que pesquei um pássaro com meu anzol", teria dito Antônio Miolo.

Perda

O velho pescador morreu no ano de 2004, aos 85 anos, sem a mesma animação quando contava suas histórias desde que sofreu uma "trombose" que o deixou debilitado até a morte. No entanto, seus causos não morreram, e ainda hoje são contados por gente como Girlene Pereira dos Santos, que é sua neta e, também, trabalha como arte-educadora na ONG Recicriança.

Registros do saber reafirmam a cultura
A sabedoria popular, a cultura e as histórias de um povo são geralmente repassadas por meio da oralidade. Essa transferência pode durar gerações, ou não. E para que muitos dos seus valores não morram na praia, as comunidades dos povos do mar no Ceará têm usado as novas tecnologias ao seu favor no melhor estilo "vamos valorizar, antes que nos esqueçam".

Os causos de "Antônio Miolo", davam-se geralmente quando ele voltava do mar e tinha a sua esposa, a "Maria Miolo", de testemunha (ou cúmplice)

E a permanência dos saberes torna-se, também, uma forma de reafirmar a identidade e os valores culturais. A preservação do meio ambiente, do artesanato e, também, da medicina natural são os principais instrumentos de valorização.

Comunidades

Os registros mais evidentes têm se dado em comunidades indígenas do litoral, especialmente por serem essas comunidades ameaçadas do seu direito natural à terra, em que o registro de seus eventos e objetos culturais é uma ferramenta de luta pela permanência no lugar.

Assim se dá com os povos indígenas litorâneos da etnia Tremembé, no Distrito de Almofala, localizado no Município de Itarema. Lá, registro audiovisual, bem como em livros e fotografias, tem revelado a cultura do povo. Outros trabalhos no mesmo sentido são feitos em comunidades como a Lagoa Encantada, dos índios Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz.

Resgate

Quando Antônio Pereira da Silva, o Antônio Miolo, faleceu em setembro de 2004, a comunidade dos Estêvão só pensou por alguns instantes que morriam também as histórias do nobre pescador que gostava de dançar o coco e contar as suas aventuras. No segundo momento surgiu a ideia de registrar para a eternidade um punhado das muitas histórias contadas e dramatizadas pelo pescador.

Isso coube à ONG Recicriança, atuante há duas décadas na mesma comunidade, sendo reconhecida nacionalmente pelo trabalho de arte-educação com as crianças da Área de Proteção Ambiental (APA) de Canoa Quebrada.

Os familiares de Antônio Miolo relembravam as histórias do pescador e recontavam a Tércio Vellardi, que as narrou para o livro "Miolo de Pote".

A Associação reuniu algumas das crianças que fazem parte dos projetos para que reproduzissem, à maneira delas, em desenhos algumas histórias escolhidas para o livro "Miolo de Pote". O livro ainda traz joguinhos de cruzadas, jogo de erros e, após cada narrativa, uma dica ambiental também.

Preservação

A preservação do meio ambiente é uma das principais missões da ONG Recicriança. Ambientalista e presidente da Associação, Tércio Vellardi, desenvolve com parceiros da própria comunidade projetos de educação ambiental e de conservação dos recursos naturais.

A instituição recebe estudantes de vários Municípios do Litoral Leste para realizarem trilhas ecológicas com aulas em campo.

A entidade também atua em parceria com outros organismos, como a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), atuante, dentre outras atividades, no resgate de mamíferos marinhos nas praias do Ceará.

FIQUE POR DENTRO

Histórias de pescador da Vila dos Estêvão

O "Livro Miolo de Pote - Causos do Pescador Antônio Miolo", foi lançado, na última quinta-feira, na sede da Associação Recicriança, idealizadora do projeto e Organização Não Governamental (ONG). A Associação fica localizada na "Vila dos Estêvão", a mesma em que viveu Antônio Pereira da Silva, o seu "Antônio Miolo", com sua esposa, Maria Borges de Castro. Lá, eles tiveram sete filhos, 26 netos e dez bisnetos. "Miolo" ficou conhecido por ser um exímio pescador e pelas histórias que contava. O livro é um projeto do Recicriança organizado por Tércio Vellardi e Túlio Muniz, com ilustrações das crianças Felipe, Lana, Tomaz, Anderson, Lázaro, Pedro, Bruna e Lucas, que são moradoras da própria comunidade, editoração eletrônica de Gilberlânio Rios. A obra é composta por quatro capítulos. Foram divididos com os títulos de: "As ovas de peixe", "O Porco", "O Albatroz", "O Rato", "O Fogão Velho", "A Vaca", "A Muriçoca", "A Melancia", "O Joanete" e "O Machado". A Associação Recicriança têm vários projetos na área de educação ambiental, desenvolvido na comunidade dos Estêvão. Entre as atividades e trabalhos sociais desenvolvidos podem ser citados, como exemplo, a campanha de preservação das dunas e falésias da Praia de Canoa Quebrada. Em outra frente, priorizando o bem estar das crianças e adolescentes da região, agem no combate à exploração sexual infantil.

Mais informações:

Associação Recicriança Vila dos Estêvão - Canoa Quebrada/Cidade de Aracati www.recicrianca.org.br

REPÓRTER
MELQUÍADES JÚNIOR

Fonte: Diário do Nordeste

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Pescadores de reserva dão exemplo de manejo no interior do Amazonas


Homens e mulheres da comunidade São Raimundo, no Médio Juruá, se organizam para ter pirarucu com mais de 1,60m


Cento e quatorze pirarucus é a cota de peixe dos pescadores da comunidade São Raimundo, na Reserva Extrativista do Médio Juruá, para este ano. Organizados em famílias, eles partem em longas canoas artesanais para o lago Manariã, onde, durante dois dias, as redes de mais de 300 metros de comprimento por seis de profundidade, retirarão das aguas doces o maior peixe de escamas do mundo.

“A gente se organiza em mutirão para a pescaria porque tudo tem que ser feito com muita rapidez e a máxima organização, senão o peixe pode estragar”, afirmou Manoel Cunha, presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros e líder da comunidade São Raimundo, no municipio de Carauari (a 788 quilômetros de Manaus).

Após montarem acampamento na boca do lago, junto a um barranco de mais de dez metros, os pescadores iniciam os preparativos para a pescaria. Redes são revisadas para identificar buracos, facas são afiadas para retirar as visceras do pescado, a alimentação é preparada para 70 pessoas e até um pequeno gerador de energia é instalado, tudo para a pescaria.

Ao anoitecer, os pescadores saem para lançar as redes no lago. Trinta e cinco homens são divididos em equipes que têm a responsabilidade de monitorar as malhadeiras. Os pirarucus têm uma bexiga natatória modificada para funcionar como um pulmão, e quando presos nas redes, morrem afogados. Como os jacarés estão sempre à espreita, os pescadores têm que ser rápidos para retirá-los da água.

“Logo que cai na rede, temos que tirar. Como ele é muito grande e pesado, usamos a ‘paulada de misericordia’ na cabeça para trazê-lo para dentro da canoa”, disse Antonio da Lima da Silva, 51, um dos lideres da equipe de pescadores.

Habilidosos, os pescadores conseguem, em seis horas, pescar 74 pirarucus. E esse número poderia até ser maior, se Manoel Cunha não tivesse determinado a diminuição do ritmo, com o objetivo de conseguir peixes maiores do que um metro e sessenta.



“No ano passado despescamos 153 pirarucus, com uma media de tamanho maior do que um metro e sessenta e cinco, mas este ano eles estão menores, por isso, vamos despescar menos e controlar ainda mais o tamanho deles”, comentou. A decisão foi acatada por todos.

Contra o tempo

Ao retornaram ao acampamento, os peixes foram estendidos em um trapiche montado especificamente para a limpeza. Equipes são montadas para pescar e transportar os peixes. A carne do pirarucu não pode ficar muito tempo exposta e a partir do momento em que ele é retirado da água, inicia-se uma corrida contra o relógio para manter as caracteristicas da iguaria.

Com afiadas facas, homens e mulheres iniciam a retirada das vísceras. Em quatro horas todos os peixes são limpos. “A gente está feliz porque ganha a mesma quantia que os homens e de igual para igual”, disse Mariângela Lima Paixão, 29, que espera receber mais de R$ 1,5 mil com a despesca deste ano.

Segundo o pescador José Luiz Bispo de Lima, 40, quando a comitiva de pesca do São Raimundo chega em Carauari, imediatamente, já tem compradores. “A gente é especializado em oferecer o que povo gosta: os restaurantes compram o filé, mas as tripas e a ossada é o povão que gosta”.

Exemplo de manejo na floresta

Convidado pela comunidade do São Raimundo para acompanhar a pescaria, o superintendente da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Virgílio Viana, acompanhou todas as atividades do mutirão.

“A técnica deles na mobilização, preparativos, pesca, limpeza e transporte é extraordinária. São pessoas que estão revolucionando a geração de renda dentro da floresta e, ao mesmo tempo, preservando uma espécie com manejo adequado”, disse.

A chefe da reserva do Medio Juruá, Rosi Batista da Silva, 49, participou da pescaria. Representante do governo federal em uma area de mais de 253 mil hectares, ela afirmou que quer estabelecer parcerias. “Governo Federal e FAS têm muito a contribuir para a melhora da qualidade de vida dos povos da floresta”, disse Rosi.

Mercado

Praticamente todas as partes do pirarucu são comercializadas no interior do Amazonas. A procura é tanta, que os pescadores dividem o peixe em várias partes. O quilo do filé c\sai, em média, a R$ 8, mas também pode ser encontrado a R$ 9 e R$ 10. A ossada com cabeça custa R$ 4,50 o quilo; o couro com escamas vale R$ 7 o quilo e as vísceras, muito apreciadas em Juruá, sai por R$ 2,50 o quilo.

Fonte: A Crítica

terça-feira, 11 de setembro de 2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

PE: comitê confirma que estudante morreu por ataque de tubarão


O Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarão (Cemit) de Pernambuco confirmou nesta quarta-feira (05/09/12)que o estudante universitário e corretor de seguros Tiago José de Oliveira, 18 anos, morreu devido a um ataque de tubarão. O corpo do rapaz foi encontrado por pescadores no último dia 28, na praia de Itapuama, no sul do Estado. Ele havia desaparecido dois dias antes enquanto tomava banho de mar com parentes na praia da Enseada dos Corais, no município do Cabo de Santo Agostinho, também no litoral sul. A distância entre as duas praias é de cerca de 2 km.

O corpo de Tiago apareceu mutilado, sem um pé, sem a tíbia e sem o perônio e com muitas lesões na pele, com marcas de mordida de animal marinho de grande porte. Segundo a certidão de óbito entregue à família da vítima, a morte foi provocada por hemorragia, e não por afogamento.

Desde 1992, quando os incidentes com tubarão começaram em Pernambuco, foram registrados 54 ataques e 21 mortes. No entanto, no local onde Tiago estava, nunca antes havia sido registrado ataque de tubarão. 
 
Fonte: Terra
 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Importação de camarão da Argentina gera impasse



Um estudo concluído em julho pelo Ministério da Pesca (MPA) avaliou que havia condições para o país importar camarões congelados provenientes da pesca extrativista da Argentina, desde que cumpridos requisitos de sanidade. No entanto, depois de divulgar o documento dentro do governo, o MPA sofreu forte pressão dos produtores brasileiros e recuou sua posição.

O impasse veio à tona com o anúncio nos últimos dias dos argentinos sobre a liberação das exportações para o Brasil, com o desmentido do governo sobre o acordo. Em nota, a Pasta informou que "a importação de camarão da Argentina não está liberada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA)" e que o assunto "está sendo discutido com outros órgãos do governo federal e autoridades da Argentina, e com o setor produtivo brasileiro". "O ministério avalia a questão sanitária envolvida e a pertinência desta importação considerando o interesse nacional", completa a nota.

A Análise de Risco de Importação identificou 98 potenciais perigos de infecção para a espécie de camarão analisada (Pleoticus muelleri). No fim, o estudo deixa claro que "após aplicação dos critérios avaliados, nenhum dos potenciais perigos foi considerado real, podendo ser considerada a importação da commodity aprovada". A conclusão do estudo reforça a tese de que a proibição de importação, imposta desde 1999, é causada por fatores sociais e não sanitários. Fontes da Pesca admitiram ao Valor que o veto é uma medida protecionista. A abertura do mercado brasileiro, dizem, eliminaria o emprego de milhares de pescadores com baixa escolaridade na região Nordeste.

Oficialmente, a assessoria de imprensa do MPA diz que o estudo, divulgado no mês passado era um "esboço" e que ainda faltavam elementos para comprovar a viabilidade técnica da decisão. Com a pressão para autorizar as importações, o MPA declarou a necessidade de aprofundar suas avaliações e requisitos para o comércio.

Fonte: Valor Econômico

sábado, 1 de setembro de 2012

Argentina - Patagônia abate gaivotas para proteger baleias de ataques em santuário



O governo da província argentina de Chubut, na região da Patagônia, iniciou nesta semana uma operação de abate de gaivotas que estão ferindo e, provavelmente, provocando a morte das baleias no centro turístico da península Valdés, conhecido como local de acasalamento e berçário.
 

Esse problema entre as gaivotas 'picadoras' (que mordem) e as baleias existe há mais de 20 anos, mas agora decidimos enfrentar a situação, que está afastando as baleias daqui", disse à BBC Brasil o secretário de Ambiente e Controle de Desenvolvimento Sustentável, Eduardo Maza. Segundo Maza, haverá um abate seletivo das gaivotas apontadas como possíveis responsáveis pela morte de cerca de 60 baleias nos últimos anos.
Maza afirmou que estudos preliminares indicaram que as baleias morrem pela infecção provocada pelas feridas deixadas por estas aves.
A operação de abate envolve lanchas especiais com atiradores com armas carregadas de balas de ar comprimido e biólogos que vão agir longe da área frequentada pelos turistas.
"Nós vamos passar algumas horas na lancha observando quais gaivotas estão atacando as baleias, e um especialista em tiro de caça as derrubará. Serão eliminadas somente as gaivotas que atacam as baleias", disse o biólogo Marcelo Bertellotti, do Centro Nacional Patagônico, com sede em Puerto Madryn.

Detalhes

A operação deve durar entre 30 e 60 dias, dependendo dos dias hábeis para a navegação. Em uma segunda etapa, as gaivotas abatidas serão analisadas em laboratório, para tentar descobrir por que agem contra as baleias.

"Estamos observando estas ações desde 2005 e vemos que antes as gaivotas atacavam as baleias mortas, mas agora também agem contra as vivas", disse o biólogo.

As primeiras informações, divulgadas pela imprensa local, indicaram que forças policiais agiriam contra as gaivotas, gerando críticas da oposição.

"A polícia deve agir contra a delinquência, e não contra gaivotas", disseram opositores, segundo a imprensa de Chubut.

Autoridades e especialistas de Chubut afirmaram que foram, então, convocados profissionais de tiro ou de caça para o combate aos pássaros – cientificamente chamados de gaivota larus dominicanos e popularmente conhecidas na Argentina e no Uruguai como "gaivota cozinheira".

Maza observou que a operação só deverá continuar se mostrar que foi efetiva contra as gaivotas violentas.
Comportamento

Com medo dos ataques, as baleias estão mudando o comportamento.

"Pela dor provocada pelas feridas, as baleias estão nadando mais rápido, estão passando mais tempo submersas e produzindo saltos de forma mais intensa. Tudo para se proteger das ações das gaivotas 'cozinheiras'", afirmou o ambientalista Alejandro Arías, da ONG Vida Silvestre.


Segundo especialistas, medo de ataques faz baleias mudarem de comportamento

Segundo os especialistas, a baleia já não mostra o dorso inteiro com a mesma frequência de tempos atrás para buscar oxigênio fora da água.

"A ação das gaivotas está provocando uma espécie de estresse nas baleias, que, em vez de estarem cuidando da cria, estão atentas a como se proteger dos ataques", disse Arías.

De acordo com Maza, a decisão de combater as gaivotas foi tomada em um auditório com a participação de autoridades, cientistas, setor de turismo e organizações não-governamentais (ONGs).
O problema é outro

Mas a medida ainda gera ressalvas. A Vida Silvestre entende que a raiz do problema é outro – os lixões e os restos de pesca jogados pelos pescadores ao mar que atraem estas gaivotas.

"A ação contra as gaivotas é superficial, não é a questão de fundo", disse Arias.

Em um comunicado, outra ONG, a Fundação Patagônia Natural, disse que é "a favor da eliminação seletiva (das gaivotas) e dos lixões a céu aberto" que atraem a ave e que "é preciso avaliar a eficiência do projeto piloto" do governo.

Autoridades disseram que o "combate aos lixões e aos restos da pesca" também estão nos planos de ação para proteção do mamífero.

Segundo o jornal El Chubut, "atualmente todas as baleias do local estão com feridas de gaivotas".
Turismo

A península Valdés é conhecida internacionalmente como ponto de concentração da baleia Franca Austral e atrai cerca de 100 mil turistas por ano.


Estudos preliminares indicam que baleias morrem por infecção provocada pelas feridas deixadas pelas aves

Especialistas explicam que a baleia chega ao local entre maio e dezembro para acasalamento e nascimento dos mamíferos.

Entre 50 e 80 baleias nascem todos os anos na reserva natural – uma das maiores do mundo.

No passeio pelo local, alguns guias turísticos costumam contar detalhes do comportamento da baleia – o acasalamento dura apenas alguns minutos e a baleia dá "maior prioridade" à cria do que à relação "de casal".

No passado, a baleia franca foi cassada quase até a extinção, recordou o biólogo argentino. Agora, está protegida por leis internacionais e em fase de multiplicação no mundo.

Na Argentina, é também considerada "monumento nacional" e podem chegar a ser milhares a visitar a península Valdés durante o ano todo.

Fonte: BBC Brasil

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