terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Atum pescado no CE representa até 62% do nacional


Na contramão de vários negócios, o mercado produtor de atum no Ceará atingiu o status de maior fornecedor entre os estados brasileiros em menos de cinco anos de atuação. Das 27 mil toneladas geradas anualmente no País, entre 13 mil e 17 mil partem do território cearense, segundo ressalta o empresário e ex-secretário da Agricultura e Pesca do Ceará, Euvaldo Bringel, o que representa até 62% do volume do pescado no País.

O ex-secretário aponta a atividade como a mais recente descoberta local. Em apenas um mês, é pescado uma média de 1,1 milhão de quilos através de 130 barcos que atualmente estão em atividade no litoral do Estado.

E o volume está em constante crescimento desde quando este mercado surgiu no Ceará. Em 2017, foram produzidas 12 mil toneladas de atum, número que cresceu 50% no ano passado, atingindo 18 mil toneladas, segundo informa o diretor de Agronegócio da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Silvio Carlos Ribeiro. "Para 2019, nós devemos chegar às 24 mil toneladas fácil - um avanço de 33%", pontua.

Demandas

Sobre as formas que o produto chega até o consumidor, Euvaldo Bringel esclarece que a produção local de atum possui três principais destinos.

"Cerca de 30% fica aqui no Estado para consumo em restaurantes, uma boa parte também está indo para o mercado de sushi no Brasil inteiro e o restante fica para as indústrias de congelados e enlatados", detalha. No Ceará, existem cinco indústrias de congelamento e uma de conservação.

Financiamento

A atividade tem obtido tantos bons resultados que instituições financeiras têm demonstrado interesse em financiar a construção de embarcações de pesca de atum. "O Banco do Brasil e o Banco do Nordeste vão começar a financiar os barcos e também tecnologias que já são utilizadas em outros países que ajudam, por exemplo, a monitorar os cardumes", afirma Silvio Carlos. Além disso, está prevista a construção de um porto específico para a pesca do atum em Itarema.

Euvaldo Bringel menciona que o número de pescadores na ativa até cresceu com a ascensão do atum. "Os filhos dos pescadores não queriam mais seguir a profissão dos pais. Mas vendo a lucratividade do negócio, os mais jovens voltaram a ver a pesca como um meio de vida".

Ao todo, cerca de 800 pescadores em todo o Estado estão envolvidos nesta atividade aquícola, de acordo com Silvio Carlos. "E ainda tem muita gente interessada em entrar no ramo. Há pessoas migrando da pesca da lagosta para o atum, porque tem menos complicações, não tem período de defeso, escassez, pelo contrário, tem muita oferta e entre os peixes é uma das carnes mais valorizadas", destaca.

Exportação

Com um mercado interno ainda muito forte, as exportações de atum produzido no Ceará ainda não começaram. "É como o camarão. A exportação é quase nula porque temos um mercado interno que absorve toda a produção e pagando bem, de forma que não precisamos exportar", explica o diretor de agronegócio da Adece.

No entanto, Ribeiro acredita que o Estado tem potencial para isso e já cita até mesmo possíveis destinos. "Acredito que temos mercado principalmente nos Estados Unidos e na Europa, apesar de o continente europeu ter uma tradição nesse pescado. Podemos encontrar características no peixe daqui que atraiam o mercado externo", ressalta.

Ceará tem se destacado na pesca de atum, onde os barcos de cearenses recebem até 17 mil toneladas do peixe, o que representa mais da metade das 27 mil toneladas geradas anualmente no Brasil

Conservação

Uma das dificuldades ainda existentes no mercado de atum no Ceará é a questão da conservação do produto. As cabines de frios precisam ser ampliadas para comportar todo o volume que está sendo pescado.

A regularização da frota de embarcações utilizadas também é um ponto que precisa ser trabalhado. Atualmente, segundo o Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), o mercado possui cerca de 130 barcos cadastrados.

A capacitação dos profissionais é uma área que requer investimento para que seja alcançado um percentual satisfatório de pescado tido como de alta qualidade.

Crescimento acelerado

Cansado de perder pescado para compradores que pagam centavos a mais, Miguel Shoiti Kikuchi resolveu começar a pescar o atum também, em vez de só comercializá-lo. Miguel comprou um barco há cerca de três anos e obteve resultados muito bons, chegando a pescar até oito toneladas por mês. Atualmente, Shoiti já possui quatro embarcações.

"Para 2019, as expectativas são de crescimento, não em termos de volume, mas de qualidade. Pretendemos encerrar o ano com 50% da produção indo para o sashimi", acrescenta o produtor.

Shoiti destaca ainda que o valor investido na primeira embarcação foi recuperado ainda no primeiro ano, período cujos resultados foram excepcionais, mas que ainda não conseguiu ter retorno do investimento realizado nos dois últimos anos. "Esperamos que em dois anos voltemos a ter superávit".

O produtor e industrial Elizeu Monteiro também começou no ramo há cerca de cinco anos e já possui uma frota de cinco barcos pescando até 65 toneladas por mês, dependendo da época do ano e das condições do mar. Destes, 60% vão para a indústria e o restante para o mercado in natura.

"Nós chegamos a empregar, direta e indiretamente, cerca de 3 mil pessoas", conta Monteiro. Os planos é obter um crescimento de até 30% em 2019 e começar a exportar já em 2020, tendo como possíveis compradores os Estados Unidos e também países da Ásia.

Fonte: Diário do Nordeste

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