terça-feira, 19 de julho de 2011

Sobre cultivo de ostra


O extenso litoral brasileiro oferece alto potencial para o cultivo do molusco, que cresce bem em áreas de mangues ou em baías

por João Mathias | Consultor André Luís Tortato Novaes


Atividade produtiva, mas pouco explorada no Brasil, a criação de ostras pode ser rentável para produtores do litoral que pretendem se dedicar ao manejo do molusco. O material é de fácil obtenção, as instalações podem ter custo baixo, quando bem pesquisadas antes da aquisição, e há sementes de ostras baratas disponíveis em institutos de pesquisa e ensino, como ocorre com a Universidade Federal de Santa Catarina. O cultivo do molusco é uma alternativa à pesca artesanal, com oportunidades para atingir escala industrial.

Com 8,4 mil quilômetros de costa marítima, o litoral brasileiro oferece grande potencial para o desenvolvimento de ostras em cativeiro. Mas o método de criação e as espécies cultivadas apresentam diferenças entre as regiões, sendo o estado de Santa Catarina o responsável por cerca de 90% da produção nacional de moluscos (o que inclui ostras, mexilhões e vieiras).

Protegida por uma concha que se abre em duas partes, a ostra pertence à família Ostreidae. Habitante de águas marinhas costeiras e rasas, ou relativamente salgadas, tem alto valor nutritivo, por conter fósforo, cálcio, ferro, iodo, glicogênio e vitaminas A, B1, B2, C e D. A ostra ainda conta com alta concentração de proteínas, contribuindo para manter os sentidos aguçados, e tem bom teor de zinco, substância importante na produção de sêmen nos homens. Daí a fama de estimulante sexual da iguaria.


A espécie japonesa prefere temperaturas de até 24ºC, embora possa ser mantida a até 28ºC. Já a nativa gosta de clima quente

Com baixo nível de gordura, as ostras conquistaram espaço na gastronomia mundial oferecendo sabores de acordo com o local de desenvolvimento. São suaves e levemente doces quando coletadas do fundo de manguezais e de gosto mais acentuado aquelas oriundas do mar, por causa da salinidade. O consumo de ostra também é estimulado para combater anemias e para a recomposição nutricional em casos de tuberculose, osteoporose e inapetência. No varejo, são encontradas ostras refrigeradas, congeladas, defumadas ou em pratos prontos.

Embora seja conhecida desde o Império Romano, a ostreicultura, ou ostricultura, chegou ao Brasil somente no século XX. Há registros da atividade aqui a partir de 1934, porém, a comercialização de ostras ganhou força apenas no início dos anos 1970, sobretudo nas regiões Sudeste e Sul. Em Santa Catarina, o cultivo comercial começou em 1988. Com estudos realizados nas últimas décadas, foram desenvolvidas técnicas de manejo adequadas para cada região.

Onde adquirir: sementes de ostra-japonesa podem ser obtidas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tel. (48) 3721-9000; e na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), tel. 0800-7231300, falecom@univali.br. Ambas as instituições também fornecem ostra nativa a partir de reprodução em laboratório

Mais informações: www.cedap.epagri.sc.gov.br; Melhoras Práticas para Produção de Ostras de Florianópolis, Programa de Certificação da Qualidade das Ostras da Grande Florianópolis; Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro (Redetec), Cecília Chicoski da Silva e Jefferson Chicoski da Silva

MÃOS À OBRA

INÍCIO: O cultivo exige autorização, por ser realizado em águas do governo federal. Também é necessário obter licenciamento ambiental. O Ministério da Pesca e Aquicultura ou o órgão de extensão rural local fornecem informações sobre a documentação necessária. A escolha da espécie para iniciar a atividade depende da localização da criação. Para a Região Sul, a ostra-japonesa (Crassostrea gigas) é a mais indicada, pois necessita de temperaturas baixas, ao contrário da ostra nativa (Crassostrea rhizophorae), que encontra no Norte e Nordeste ambiente adequado para o crescimento. 

SEMENTES: São ostras jovens, de no máximo três centímetros, que podem ser conseguidas em universidades que pesquisam as espécies ou diretamente na natureza, utilizando-se coletores artificiais, como telhas ou garrafas PET de dois litros e sem fundo.
LONG-LINES: A ostra-japonesa é criada em estruturas fixas em baías, as long-lines (longas linhas), cujas dimensões variam de acordo com o ambiente. Pode ser constituído de um cabo-mestre de 25 milímetros de diâmetro e comprimento médio de 100 metros ancorado com poitas (estacas) de dois metros enterradas no fundo. A sustentação do cabo se dá com o auxílio de flutuadores amarrados.
TRAVESSEIROS: O sistema de travesseiros – espécie de saco feito de malha grossa, onde são acondicionadas as ostras jovens – é recomendado para a criação da espécie nativa em regiões de mangue, mas também é usado para manejo da japonesa no mar. Mesas feitas por três vergalhões de aço de construção de 16 milímetros (sem galvanização), com 3 metros x 85 centímetros x 50 centímetros de largura, acomodam sete travesseiros ou 1,4 mil ostras. Devem ser mantidas em profundidade na qual permaneçam submersas e só fiquem fora d’água durante as marés grandes ou de lua, quando é feito o manejo.
CUIDADOS: É importante contar com proteção de ventos fortes e de ondas no local da criação. Porém, as correntes e o fluxo das marés devem ser suficientes para a renovação da água, como também a salinidade e a temperatura em condições adequadas para o crescimento das ostras. Observe se há boa disponibilidade de nutrientes na água para a produção de plâncton, para alimentação das larvas e ostras, e mantenha a criação longe de fontes poluidoras, pois os organismos são filtradores de água marinha.
REPRODUÇÃO: Embora sejam organismos com sexo distinto em cada indivíduo, as ostras podem ter mudança de sexo em algumas condições. Na água do mar, os espermatozoides liberados pelos machos fecundam os ovócitos expelidos pelas fêmeas. Após formarem células-ovo, iniciam o processo de evolução para larvas, que depois de algum tempo buscarão um substrato para se fixar.

RAIO X
CUSTO: o milheiro das sementes de ostra-japonesa e nativa provenientes de projetos da Universidade Federal de Santa Catarina custa cerca de R$ 11
CRIAÇÃO MÍNIMA: com manejo adequado, um hectare de área útil gera bom rendimento
RETORNO: de sete a oito meses após a introdução das sementes no mar, podem ser obtidas ostras-japonesas de 8,5 a 9,5 centímetros em Santa Catarina
REPRODUÇÃO: fecundação externa com auxílio do ambiente aquático

Fonte: Globo Rural

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