segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sobrevivência dos peixes depende de mangues e recifes conectados


Um estudo inédito realizado na Região Abrolhos comprovou que a conexão entre manguezais e recifes de corais é fundamental para o ciclo de vida para as espécies de peixe dentão ou vermelho. O estudo mostrou também lacunas quanto a medidas de proteção destas áreas, conforme já denunciado por ambientalistas capixabas.

Conduzido por pesquisadores brasileiros e do exterior, com apoio da Conservação Internacional (CI-Brasil), o estudo foi publicado na revista Estuarine, Coastal and Shelf Science, e aponta informações importantes para o manejo das espécies de alto valor comercial e que apresentam, segundo o mapeamento, um acentuado declínio em seus estoques.

Em meados de junho, um estudo desenvolvido por pesquisadores do Museu de História Natural Capão da Imbuia (PR) também abordou o ciclo produtivo das espécies mais pescadas no Estado, como o badejo, garoupa e o vermelho. Na ocasião, o alerta foi para a pesca irregular que prejudica que interfere no ciclo de amadurecimento das espécies, desregula o ecossistema e não deixa descendentes que garantam os ciclos reprodutivos. 

O estudo também confirma a tese e acrescenta dados relativos não apenas à pesca excessiva, mas também à preservação dos manguezais e dos recifes de corais como detentores de papel fundamental na preservação dos peixes.

Segundo a pesquisa, o vermelho é menor nos estuários, intermediários nos recifes costeiros e maior na área do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, indicando que a espécie migra ao longo da plataforma continental na medida em que cresce e constatou, portanto , a importância dos manguezais e dos recifes de corais para a preservação dos estoques pesqueiros desta espécie em toda a região.

Foram investigadas 12 áreas que representam diferentes hábitats costeiros e recifais, abrangendo a Reserva Extrativista (Resex) de Cassurubá, os recifes Parcel das Paredes e Sebastião Gomes e o Parnam dos Abrolhos. Porém, a pesca excessiva na região norte do Estado, o aporte de grandes empreendimentos e a exploração petrolífera são fatores importantes para a preservação do estoque pesqueiro por abranger a zona de amortecimento do Parque Nacional Marinho de Abrolhos.

A zona de amortecimento do parque assegura a manutenção da biodiversidade no Banco de Abrolhos, tanto de seu ambiente marinho, incluindo os recifes, como também dos ecossistemas costeiros, principalmente os manguezais, as restingas e matas ciliares, desde grande parte do sul da Bahia até a foz do Rio Doce, no Espírito Santo. Trata-se de uma proteção necessária ao parque, definida no artigo 25 da Lei 9.985/00, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

Neste contexto, o estudo cobra restrições às capturas dos adultos durante a fase reprodutiva – entre junho e setembro – e regras que assegurem que os peixes capturados tenham completado pelo menos um ciclo reprodutivo, o que ocorre acima de 35cm, também é importante. E é neste ponto que os pesquisadores ressaltam a importância da preservação dos manguezais e recifes próximos à costa. Segundo eles, para chegar até a idade adulta, por exemplo, o dentão precisa destes refúgios próximos à costa, mesmo em áreas liberadas para pesca.

A informação é que são capturadas pelo menos três mil toneladas de vermelho por ano nessa região, numa atividade que envolve cerca de 20 mil pescadores.

Uma vez que a espécie migra através da plataforma continental, está claro que áreas protegidas em unidades isoladas, tais como o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, não são efetivas para proteger as diversas etapas do ciclo de vida, necessitando portando de outras ferramentas restritivas à pesca.

Segundo o estudo, além dos instrumentos de proteção contra a pesca predatória serem insuficientes, os estuários e manguezais no Brasil têm sido crescentemente impactados pela expansão urbana, portuária e de atividades agroindustriais altamente degradadoras, tais como a carcinicultura (criação de camarões de água salgada), que não oferecem ferramentas para o uso sustentável e a conservação da biodiversidade destas áreas.

O estudo foi realizado por Rodrigo Leão de Moura e Eduardo M. Chaves, do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais da Universidade Estadual de Santa Cruz ; Ronaldo Bastos Francini-Filho do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente da Universidade Federal da Paraíba da Universidade Estadual de Santa Cruz; Kenyon C. Lindeman, Departamento de Sistemas Marinhos e Ambientais, Instituto de Tecnologia da Flórida e Carolina Viviana Minte-Vera do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura da Universidade Estadual de Maringá.

Fonte: Século Diário

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