quinta-feira, 21 de abril de 2011

Estudo econômico compara sistemas de cultivo integral e de engorda da ostra-do-mangue


A ostra-do-mangue foi o principal produto da pesca artesanal do estuário de Cananéia, em termos de volume desembarcado, nos anos de 1999 e 2000, passando para o segundo e terceiro lugar, respectivamente, nos dois biênios subsequentes, segundo MENDONÇA e MACHADO (2010).

Os trabalhos de WAKAMATSU (1973), AKABOSHI e PEREIRA (1981), PEREIRA e CHAGAS-SOARES (1996), PEREIRA et al. (2001 e 2003) demonstram o estuário de Cananéia com condições favoráveis para o desenvolvimento de bancos naturais da ostra-do-mangue, tornando a região a principal produtora desse recurso no estado de São Paulo, de acordo com PEREIRA et al. (2003).

Diante do exposto, foi proposto o desenvolvimento do estudo: “Análise econômica comparativa dos sistemas de cultivo integral e de ‘engorda’ da ostra-do-mangue, Crassostrea spp, no estuário de Cananéia, São Paulo, Brasil”, de autoria de Marcelo Barbosa Henriques,henriquesmb@pesca.sp.gov.br, Ingrid Cabral Machado e Lúcio Fagundes, pesquisadores científicos do Instituto de Pesca. Este instituto vincula-se à APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agros-negócios) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo.

SANTOS (2008), estudando a etno-ecologia dos extrativistas de ostras de Cananéia, relata que esse molusco é explorado na região desde a década de 1940, época em que a extração tinha apenas caráter de subsistência. Nas décadas de 1950 e 1960, a atividade começou a atender a um comércio incipiente, consolidando-se na década de 1970 como uma alternativa comercial importante para o setor pesqueiro artesanal na região.

A partir da década de 1970, com a firmação do interesse comercial e o aumento da oferta da ostra, surgiu a preocupação com a manutenção de seus estoques, que poderiam estar sobrexplotados. Diante desses fatos, pesquisadores do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO/USP) e do Instituto de Pesca estabeleceram um protocolo para o cultivo da espécie, registram WAKAMATSU (1973) e AKABOSHI e PEREIRA (1981), que consistia de três etapas:

1- captação de sementes de ostra em ambiente natural, por meio de coletores artificiais dispostos no fundo dos canais, em pequenas baías ou remansos dentro do estuário;
2 - seleção de sementes através do “castigo” (exposição ao ar e ao sol, para separação dos indivíduos com boa resistência e potencial de crescimento); e
3 - fase de terminação do cultivo em viveiros tipo “tabuleiro”, implantados na zona entre - marés.

A aplicação desse protocolo resulta num ciclo produtivo de aproximadamente 22 meses, envolvendo atividades complexas, alheias ao universo das comunidades locais de pescadores. Entretanto, uma empresa particular buscou a assessoria técnica do Instituto de Pesca para essa tecnologia de cultivo e a utilizou durante vários anos, explica o pesquisador Marcelo Henriques.

APOIO A COMUNIDADES LITORÂNEAS

Em 1994, profissionais do Instituto de Pesca, da Secretaria do Meio Ambiente (SMA/SP) e do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras da Universidade de São Paulo (NUPAUB–USP) realizaram um estudo para diagnosticar as possibilidades de aproveitamento da tecnologia da ostreicultura pelas comunidades extrativistas do município de Cananéia. Eles interpretaram que tais comunidades, embora arraigadas culturalmente no extrativismo de ostras, poderiam ser motivadas para atuar na ostreicultura. Em razão das barreiras culturais identificadas, associadas principalmente ao longo ciclo do cultivo, os estudiosos propuseram o desenvolvimento de uma tecnologia intermediária entre o extrativismo e o cultivo integral, a qual foi denominada ´engorda` (termo regional que caracteriza a fase de terminação), a ser introduzida como uma etapa estratégica preliminar à adoção da ostreicultura pelas comunidades.

Em 1995, um projeto interinstitucional introduziu a ´engorda` de ostras junto às comunidades extrativistas de Cananéia, conforme citado por MALDONADO (1999), PEREIRA et al. (2001); MEDEIROS (2004) e GARCIA (2005). Essa atividade, derivada da tecnologia de cultivo integral, consiste na “semeadura” de ostras adultas e sua posterior extração ao atingirem o tamanho apropriado para comercialização, descreve PEREIRA et al. (2001).

Nos anos subsequentes, a prática da ´engorda` de ostras expandiu-se entre as comunidades extrativistas locais, ocorrendo conjuntamente com o extrativismo e as reduzidas experiências de cultivo integral a partir de captação de sementes em ambiente natural, explica Marcelo.

Embora a ´engorda` seja apenas uma etapa do processo de cultivo de ostras, representa um ganho ambiental, pelo incremento da atividade reprodutiva das ostras nos viveiros durante o tempo que permanecem na água, pois exemplares a partir de 20 mm já são sexualmente maduros, registra GALVÃO et al. (2000). Além disso, proporciona agregação de valor ao produto, melhorando sua remuneração, conforme GARCIA (2005).

O estudo comprova que mais da metade da produção total de ostras de Cananéia ainda é proveniente do extrativismo, porém cerca de 40% já é oriunda de viveiros de ´engorda`. Neste sentido, o objetivo da pesquisa foi comparar, zootécnica e economicamente, os sistemas de cultivo integral e de ´engorda` da ostra-do-mangue, praticados na região de Cananéia, a fim de demonstrar qual o método mais rentável.

O cultivo integral, como proposto, não demonstrou viabilidade econômica frente aos preços de venda praticados no mercado local de Cananéia, citam os autores. Por outro lado, o cultivo de ´engorda`, que é o mais praticado pelos maricultores, mostrou-se altamente viável, de acordo com os indicadores econômicos utilizados, e atrativo, pela rapidez de retorno do capital investido.

Os autores ressaltam que a ´engorda`, além de se apresentar rentável, promove uma mudança de comportamento nos extrativistas de ostra, pois, embora as ostras cultivadas também provenham da natureza, seu aproveitamento utiliza plenamente o potencial de crescimento e reprodução. Desse modo, apesar de extrativo na fase inicial, o sistema apresenta-se sustentável no final do ciclo de produção, promovendo oportunidade de melhor negociação e disponibilidade de oferta conforme a demanda, garantindo o atendimento do mercado consumidor com um produto padronizado e não sazonal.


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