sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cresce a preocupação com grandes aquários

Nos recifes de Florida Keys, muitos mergulhadores apreciam a vista, enquanto outros praticam a pesca esportiva. Mas um pequeno terceiro grupo coleta caranguejos-ermitões de patas azuis, camarões verdes e outros invertebrados, não para comer ou se divertir, mas para o comércio de aquários.

Há cerca de 700 mil aquários domésticos de água salgada nos EUA, e peixes tropicais com um pouco de rocha não bastam mais para satisfazer os mantenedores de muitos desses oceanos em miniatura.

Os peixes continuam lá, mas, com o avanço da tecnologia e da técnica, os aquários atuais são muitas vezes ecossistemas de recifes em pequena escala, com corais vivos e rochas "vivas" cheias de anêmonas, camarões, ouriços, caranguejos e mariscos.

O resultado é um crescente mercado para esses e outros invertebrados dos recifes, muitos deles fornecidos por cerca de 165 coletores licenciados na Flórida. Eles dizem que seu mercado é sustentável e administrado de maneira rígida, sem a concessão de novas licenças e com limites diários de coleta para muitas espécies.

Mas os cientistas afirmam que a coleta ameaça os próprios ecossistemas que os aficionados de aquários desejam replicar. Fora o muito reconhecido impacto ecológico do comércio sobre o coral vivo, esses pesquisadores dizem que a demanda por invertebrados -criaturas que muitas vezes têm em um tanque as mesmas funções de limpeza e controle de pragas que têm na natureza- é tal que a pescaria pode se tornar insustentável.

"Talvez estejamos aumentando a coleta a um ponto que chega perto do limite", disse Andrew Rhyne, biólogo marinho do Aquário da Nova Inglaterra que estudou o pesqueiro de invertebrados na Flórida. "A questão é: qual é esse limite?"

Se uma espécie é colhida demais a ponto de sua presença no mar cair drasticamente, dizem Rhyne e outros, pode haver um efeito cascata no ecossistema. Sem invertebrados herbívoros, um recife pode ser dominado por algas.

Jessica McCawley, bióloga da Comissão de Conservação de peixes e Vida Silvestre da Flórida, discorda que o ecossistema do Estado esteja ameaçado. Ela ajudou a atualizar os regulamentos no ano passado e disse: "Esses coletores são um tipo especial de pescador. Eles estão muito preocupados com o meio ambiente. Eles nos procuraram e disseram: Vocês podem fazer regulamentos para nós? ".

O que não se discute é que o pesqueiro mudou nas últimas duas décadas, coincidindo com o aumento da popularidade dos tanques de recifes. Esses aquários incluem tanques domésticos ou para escritórios -de até várias centenas de litros de água- e atrações como o tanque de recife de coral de 75,7 mil litros no Atlantis Marine World, em Riverhead, Nova York, considerado um dos melhores do mundo.

Jeff Turner, dono da Reef Aquaria Design, de Coconut Creek, Flórida, que constrói e mantém grandes aquários de recifes em residências, escritórios, hospitais e outras instituições, diz que eles não são meras decorações, mas "uma janela educativa para o mar". Os aficionados e aquaristas profissionais que realizam esses projetos "estão preocupados com o ambiente marinho", disse.

A atração para o aficionado é que usar essas criaturas ao mesmo tempo replica o ecossistema natural e reduz a necessidade de formas menos naturais de manutenção do tanque. Mas os amadores domésticos nem sempre são hábeis para administrar seus tanques, que são suscetíveis a pequenas mudanças na química ou na temperatura da água. Os invertebrados morrem e precisam ser substituídos.

"O que sempre me incomodou é a natureza descartável desses animais", disse Eric Borneman, aquarista. Com os invertebrados, disse, "há uma enorme quantidade de mortalidade na remessa" e nos tanques mantidos por pessoas que estão começando no hobby. "Como reverter essa mortalidade e esse constante influxo de animais da natureza para abastecer esse comércio?"

Michael Tlusty, diretor do Aquário da Nova Inglaterra, disse que na Flórida "eles estão tentando administrar isso como um único pesqueiro", mas há centenas de espécies diferentes sendo coletadas.

Rhyne acrescentou: "Não estamos dizendo que a coisa vai desmoronar amanhã ou no ano que vem. Mas precisamos tomar cuidado para que, de repente, não tenhamos que dizer: Xi! Acabamos de pegar o último ".

Fonte: Folha de São Paulo

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