sexta-feira, 29 de junho de 2012

RJ - Presidente da OAB-RJ afirma que acompanhar​á investigação dos assassinat​os de pescadores


Em ato de apresentação de um manifesto de repúdio aos assassinatos dos pescadores da Associação dos Homens do Mar da Baía de Guanabara (Ahomar), o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ), Wadih Damous, afirmou nesta sexta-feira que a entidade vai acompanhar o inquérito policial e cobrará uma “pronta apuração” do crime. Damous disse que os pescadores mortos lutavam contra "interesses econômicos e predatórios".

- Repudiamos veementemente um acontecimento bárbaro como este. Pescadores que lutavam contra interesses econômicos e predatórios foram assassinados. A OAB não vai permitir que novos crimes venham a acontecer pelo mesmo motivo. Nós exigimos das autoridades da Segurança Pública do Rio de Janeiro a pronta apuração do que aconteceu, em quais circustâncias, quem foram os autores. E vamos cobrar que as medidas seguranças que estão sendo requerida aos outros pescadores sejam prontamente atendidas - afirmou Damous.

Após os assassinatosde João Luiz Telles Penetra, de 40 anos, e Almir Nogueira de Amorim, de 45, na madrugada de sábado, também está sendo avaliada a necessidade de proteção a outros pescadores da Ahomar, com sede em Magé. O Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos é coordenado pela Secretaria estadual de Assistência Social. Das seis pessoas incluídas hoje no programa, o presidente do grupo ambientalista, Alexandre Anderson de Souza, já conta com escolta armada 24 horas por dia.

Os pescadores foram encontrados mortos, com pés e mãos amarrados, na Baía de Guanabara. A Divisão de Homicídios também investiga o caso. O coordernador do programa, Antônio Pedro Soares, disse que está acompanhando as investigações:

— Estamos avaliando a inclusão de outros integrantes do grupo de Alexandre em função dos últimos acontecimentos. Os conflitos podem envolver interesses econômicos de grupos poderosos, e temos todo o interesse numa apuração rápida dos fatos — disse Soares.

Alexandre contou ao GLOBO que vem sofrendo atentados desde 2009, quando a Ahomar começou a liderar movimentos contrários a projetos petrolíferos na Baía de Guanabara. Cercado por homens do 34º BPM (Magé), o pescador comenta que o clima é de medo:

— Tem pescador deixando a profissão e evitando sair à noite pela Baía de Guanabara.

Fonte: O GLOBO

quinta-feira, 28 de junho de 2012

RJ - Dois pescadores desaparecidos são encontrados mortos


Dois pescadores que estavam desaparecidos desde sexta-feira foram encontrados mortos no domingo e na segunda-feira na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Almir Nogueira do Amorim, de 45 anos, e João Luiz Telles Penetra, de 40, atuavam na Associação Homens do Mar (Ahomar), que defende a pesca artesanal e luta desde 2007 contra empreendimentos da Petrobrás na baía.

"Se trata de assassinato. O amigo, fundador da associação e primo da minha esposa (Almir) foi achado amarrado com as mãos para trás e com marcas de execução", escreveu o presidente da associação, Alexandre Anderson, em comunicado enviado à imprensa. Segundo ele, Penetra, também conhecido como "Pituca", era uma liderança e único articulador do grupo na Ilha de Paquetá. "Nos ajude! Estão matando nossos amigos ! Nosso sonho! O pior é que não tem polícia na praia de Mauá (em Magé, na Baixada Fluminense), onde eu moro".

Anderson vive sob escolta armada desde 2009, por meio do Programa Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos. Ele afirma ter sofrido ameaças após protestos organizados pela associação contra empreendimentos realizados na baía. O grupo alega que as intervenções prejudicam a pesca. Desde 2009, outros dois pescadores foram mortos na baía. O primeiro, depois que o grupo conseguiu suspender obras para instalação de dutos do projeto GLP na praia de Mauá. Anderson já protocolou denúncias acusando a presença de homens armados em canteiros de obras na região.

O corpo de Amorim foi encontrado no domingo em uma área de currais (armadilhas para captura de peixes), amarrado a um barco naufragado, em Mauá. Penetra foi achado na segunda-feira, boiando na baía, perto de um estaleiro. Os dois teriam sido vítimas de afogamento. Os casos estão sendo investigados pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo. No enterro de Penetra, terça-feira, parentes dele suspeitavam que a morte tenha sido causada por uma disputa por áreas de pesca na baía. Segundo um dos primos do pescador, há vários currais com "milícias marítimas".

Fonte: Veja

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Portugal: A sardinha já não é para todos os bolsos

Dar 20 euros por um quilo de sardinhas não é para todas as carteiras. Que o digam os portugueses quem em dias de festas populares tentam comprar a rainha dos santos.

A falta de pescado e o forte consumo devido aos Santos Populares e ao Euro 2012 são as principais causas do aumento de preço, mas mesmo assim há quem nunca tenha visto nada assim e não arrisque a desembolsar o preço do quilo.

Vídeo: http://www.tvi24.iol.pt/aa---videos---sociedade/ultimas-noticias-sardinha-tvi24-preco/1357150-5795.html

Sardinha atinge preços históricos
O preço do cabaz de sardinha bateu, esta sexta-feira, todos os recordes: 300 euros na lota de Matosinhos, o dobro de 2011. Apesar disso, comerciantes garantiam que, este sábado, cada sardinha assada não ultrapassa 1,50 euros.

Ainda na quarta-feira, o mar tinha sido amigo dos pescadores e forneceu abundância, depois de quase duas semanas sem sequer lançarem as redes ao mar por não encontrarem peixe. Em resultado, a sardinha nacional encheu a lota de Matosinhos e o preço ao quilo caiu para cinco euros, metade do que estava a ser pedido no início da semana.

Um dia depois, contudo, o mesmo mar deixou de ser generoso e a maior parte dos barcos regressaram ao porto de pesca de Matosinhos com as redes vazias, deixando pescadores com receio de não ganharem a comissão que habitualmente lhes compõe o salário e peixeiras sem forma de satisfazer as encomendas.

Fonte: Dinheiro Vivo  e TVI24

Cabaz da sardinha sobe de 10 para 100 euros

A sardinha é pouca e cara. De nada valeram as longas horas de espera por um bom negócio na Docapesca, em Matosinhos. A maioria dos cabazes dos pescadores foi vendida a 100 euros e, fora da lota, o preço subiu mais. Num dia normal, o cabaz ronda os 10 euros. Para quem compra, os dias que antecedem o S. João são os piores. Só os pescadores sorriem com o agigantar do lucro.

"Havia de festejar-se o S. João mais vezes. É nestes dias que ganhamos alguma coisa que se veja. No S. João, só não se vende o barco, porque não podemos", graceja Delfim Vilaça, contramestre do barco "Virgem das Dores", lado a lado com os homens das Caxinas e da Póvoa que compõem a tripulação. Atracados, apressam-se a colocar o pescado em cabazes (o cabaz pesa 22,5 quilos e carrega 400 a 450 sardinhas), deixando no porto os peixes mutilados pelas redes. As gaivotas aguardam pelo petisco.

Fonte: Jornal de Notícias

terça-feira, 26 de junho de 2012

Programa Toxic Tour mostra agressões ambientais no Rio de Janeiro


Toxic tour mostrou para participantes da Rio+20 contradições do atual modelo de desenvolvimento na Cidade Maravilhosa. Seu Francisco saiu de casa para olhar o movimento. Ficou curioso com tanta gente que desceu de um ônibus, quase todos com câmeras à mão e muitos falando outros idiomas. Perguntou o que estava acontecendo e explicaram a ele que os "turistas" eram pessoas de diversos países e do Brasil, jornalistas, pesquisadores e ativistas que estavam no Rio de Janeiro por ocasião da Rio+20 e foram conhecer de perto os impactos da siderúrgica TKCSA [Thyssenkrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico] no bairro de Santa Cruz, na zona oeste da capital carioca. "É um perigoso isso aqui", comentou Seu Francisco, sobre a presença da empresa no local.

Seu Francisco, que mora no bairro há 60 anos, viu o local mudar muito com a chegada da TKCSA. Assim como ele, milhares de pessoas, estima-se que 20 mil, sintam os impactos da empresa na vida cotidiana, sobretudo nos últimos dois anos quando começaram as atividades da siderúrgica e uma "chuva de prata" começou a cair em cima das roupas no varal, das plantas e passou a fazer parte do ar respirado pelas pessoas.

A visita à Santa Cruz foi um dos destinos do Rio+Tóxico, atividade organizada durante a Cúpula dos Povos na Rio+20, entre os dias 15 e 17 de junho, para denunciar os prejuízos de grandes empreendimentos ao meio ambiente e às populações, sobretudo as mais pobres, marginalizadas e comunidades tradicionais. Outro destino que recebeu visitantes foi a cidade de Magé, onde pescadores tiveram que deixar o trabalho por conta de empreendimentos da Petrobrás, além de contaminação da Baía de Guanabara e, inclusive, sofrem ameaças de morte por protestarem e denunciarem a ação da empresa pública. Também fizeram parte do tour a região de Duque de Caixas, com a visita à refinaria Reduc, à Área de Proteção Ambiental São Bento, ao aterro de Jardim Gramacho - o maior do mundo e recentemente desativado - e o local conhecido com Cidade dos Meninos, onde há contaminação por resíduos de inseticidas abandonados. Os visitantes ainda puderam conhecer a Baía de Sepetiba - que também banha Santa Cruz, e é impactada pela TKCSA e outros empreendimentos anteriores, que deixaram por lá um grave passivo ambiental.

Na saída para o primeiro dos destinos - Santa Cruz - Carlos Tautz, do Instituto Mais Democracia, explicou que a escolha do local de concentração para saída dos ônibus rumo aos locais impactados não foi feita ao acaso. "Escolhemos nos concentrar em frente ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para denunciar que este banco público, estatal, financia todos estes projetos. O banco está completando 60 anos, mas hão faz jus a esta idade. Apesar de ter o dobro do orçamento do Banco Mundial, financia os piores projetos no Brasil e também na América Latina e agora, na Rio +20, se apresenta como um dos grandes financiadores do capitalismo verde", afirmou.

TKCSA

A viagem até Santa Cruz demorou cerca de uma hora. Miguel Trentin, do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), um dos organizadores do Toxic Tour, explicou que este tempo dobra em dias úteis. A fumaça dos alto-fornos da siderúrgica já pôde ser vista assim que o ônibus chegou ao bairro. A comitiva avançou o mais próximo possível da TKCSA, um dos portões de entrada da empresa, onde um carro da segurança particular estava estacionado. Os visitantes fotografaram e filmaram a siderúrgica e também foram fotografados por um dos seguranças. Em seguida, os moradores organizaram uma recepção em um salão de festas para relatarem os impactos sofridos. Nas paredes, cartazes de protesto contra a presença da TKCSA na região e várias fotos das evidências do impacto - como uma criança com problemas de pele e a concentração do pó prateado nas folhas das plantas.

Jacir do Nascimento, ex-pescador, relatou, muito emocionado, o que vem acontecendo desde que a empresa se instalou em Santa Cruz. "Não podemos mais tirar o nosso sustento da Baía de Sepetiba, temos que procurar um outro modo de viver para levar o sustento para dentro de casa, eu estou trabalhando como servente de obra, e fazendo um biscate ali e aqui. A TKCSA acabou com nossos peixes na Baía de Sepetiba. A mesma coisa que nós aqui na terra estamos sentindo na pele com a poluição, o peixe também está sentindo dentro do mar. Os nossos governantes aceitaram essa empresa aqui, tentaram se instalar em vários outros locais e não conseguiram, e vieram se implantar aqui, em cima da gente, disseram que não havia moradores perto de onde a empresa seria implantada, o que não é verdade", contou.

Contra

Jacir acrescentou que antes da instalação da empresa foi feita uma reunião com os moradores. Na ocasião, eles se posicionaram contra o empreendimento, entretanto, de acordo com ele, foi levado para a Alemanha, sede da siderúrgica, um posicionamento diferente segundo o qual os moradores de Santa Cruz não estavam apresentando resistência à TKCSA. Ainda segundo Jacir, fotos do bairro foram tiradas de forma a mostrar as partes menos habitadas para tentar referendar o argumento de que não haveria impactos significativos aos moradores. "Isso foi fraude deles. Agora estamos passando esse perrengue aqui, minha vista tem ardência o tempo todo, essa coceira na pele. Eu com um pulmão só, pescador, com 58 anos de idade, não estou agüentando isso aqui não. E as crianças, como ficam? Quem já tem bronquite não agüenta", protestou.



Moradores de Santa Cruz fundaram recentemente a Articulação da População Atingida pela Companhia Siderúrgica do Atlântico e, junto a pesquisadores e entidades que os apóiam, têm feito diversas ações de denúncia. Os participantes do tour receberam uma lembrancinha: um pequeno vidro com uma amostra do pó emitido pela siderúrgica. E também foi distribuído o primeiro informativo feito pelos moradores chamado "Alô TKCSA!".

Para Fernando Costa, da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, também presente no Toxic Tour, a instalação da TKCSA em Santa Cruz é um típico caso dos negócios fechados entre as empresas e os governos sem levar em conta os direitos básicos das populações. "Aqui nós vemos um caso típico de injustiça ambiental que acontece em vários locais do mundo, uma comunidade que não foi consultada, que está sofrendo os impactos. Eles estão resistindo, mas a empresa tem muito mais força, está junto com o governo. Existe uma captura corporativa, uma relação promíscua das grandes corporações com os governos e é isso que estamos vendo aqui. As opções do governo não são mais para defender o povo, mas entregá-los para essas iniciativas".


Fonte: Caros Amigos

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ceará: Regata exalta tradição das jangadas


Participaram do Circuito Cearense de Jangadas 51 embarcações, cada uma delas com cinco componentes



A primeira edição da regata do Circuito Cearense de Jangadas 2012 levou um grande público à praia da Barra do Ceará, na tarde de ontem. Juntos, os espectadores vibraram e se emocionaram com a competição entre as 51 jangadas. O evento contou com apoio da TV Diário.

Desde a praia da Avenida Leste-Oeste, em frente à Escola de Aprendizes Marinheiros, onde foi feita a largada, até o Vila do Mar, onde ficava a linha de chegada, muitos jovens, adultos e idosos assistiam ao evento. O público aproveitou o momento para tirar fotos e fazer vídeos.

A grande vencedora foi a jangada Gabi; em segundo, ficou a embarcação Nossa Senhora dos Navegantes.

Chegaram em terceiro os jangadeiros da embarcação Ceilândia, em quarto a Imperatriz, e o quinto lugar foi alcançado pela jangada Villani.

Os primeiros colocados receberam R$ 2.500,00 (1º lugar), R$ 1.000,00 (2º lugar) e R$ 500 (do 3º ao 5º lugares). Foram entregues pela Esmaltec geláguas, fogões e geladeiras aos que ficarem até no 16º lugar.

Todos os competidores também receberam cestas básicas.

O diretor de Programação do Sistema Verdes Mares, Edilmar Norões, comentou que o objetivo central do evento é resgatar a cultura dos jangadeiros cearenses. “As jangadas são um símbolo do Ceará. As imagens do nosso Estado, Brasil afora, lembram as velas dessas embarcações”.

Edilmar Norões também destacou que a regata, realizada neste ano na Barra do Ceará, também ajudou a levar para os moradores da Capital as mudanças realizadas em todo o bairro através do Projeto Vila do Mar.

“Trazer a competição para esse local é uma maneira de mostrá-lo para as muitas pessoas que não conhecem esse novo pedaço de nossa cidade. Com isso, o público presente pode participar de um espetáculo bonito e também conhecer essa nova avenida da cidade”, afirmou Edilmar Norões.

Para o diretor de Telejornalismo da TV Diário, Roberto Moreira, o envolvimento de toda a comunidade foi muito importante para a realização do evento. “Em toda a comunidade, existem 400 barcos e mais de cinco mil pessoas vivem disso. Mas, eles nunca tiveram uma regata como essa ao lado de suas residências”, disse Roberto Moreira.

Tradições

O empresário José Joacy Fonseca ficou feliz ao constatar o grande número de presentes na competição. “As pessoas foram se envolvendo aos poucos, pois muitos vivem da pesca e, com isso, foram incentivando a cultura no Bairro”, ressaltou.

Os jangadeiros campeões da primeira edição da regata do Circuito Cearense de Jangadas 2012, Eloildo Ribeiro da Silva, Paulo Menezes, José Maria e Gilmar Carneiro, não paravam de comemorar a vitória. “Devido à boa equipe que temos, conseguimos vencer. Essa foi uma batalha que a gente esperava, mas não sabia como seria. Aqui, todos são mestres no que fazem e, por isso, conseguimos vencer”, afirmou Menezes.

Fonte: Diário do Nordeste

sábado, 23 de junho de 2012

Cúpula dos Povos: Declaração Final


O documento final da Cúpula dos povos sintetiza os principais eixos discutidos durante as plenárias e assembléias, assim como expressam as intensas mobilizações ocorridas durante esse período – de 15 a 22 de junho – que apontam as convergências em torno das causas estruturais e das falsas soluções, das soluções dos povos frente às crises, assim como os principais eixos de luta para o próximo período.

As sínteses aprovadas nas plenárias integram e complementam este documento político para que os povos, movimentos e organizações possam continuar a convergir e aprofundar suas lutas e construção de alternativas em seus territórios, regiões e países em todos os cantos do mundo. Você também pode ler a carta aqui (em pdf).


Declaração final

Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental
Em defesa dos bens comuns, contra a mercantilização da vida

Movimentos sociais e populares, sindicatos, povos, organizações da sociedade civil e ambientalistas de todo o mundo presentes na Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, vivenciaram nos acampamentos, nas mobilizações massivas, nos debates, a construção das convergências e alternativas, conscientes de que somos sujeitos de uma outra relação entre humanos e humanas e entre a humanidade e a natureza, assumindo o desafio urgente de frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, através de nossas lutas, novos paradigmas de sociedade.

A Cúpula dos Povos é o momento simbólico de um novo ciclo na trajetória de lutas globais que produz novas convergências entre movimentos de mulheres, indígenas, negros, juventudes, agricultores/as familiares e camponeses, trabalhadore/as, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, lutadores pelo direito a cidade, e religiões de todo o mundo. As assembléias, mobilizações e a grande Marcha dos Povos foram os momentos de expressão máxima destas convergências.

As instituições financeiras multilaterais, as coalizações a serviço do sistema financeiro, como o G8/G20, a captura corporativa da ONU e a maioria dos governos demonstraram irresponsabilidade com o futuro da humanidade e do planeta e promoveram os interesses das corporações na conferencia oficial. Em constraste a isso, a vitalidade e a força das mobilizações e dos debates na Cúpula dos Povos fortaleceram a nossa convicção de que só o povo organizado e mobilizado pode libertar o mundo do controle das corporações e do capital financeiro.

Há vinte anos o Fórum Global, também realizado no Aterro do Flamengo, denunciou os riscos que a humanidade e a natureza corriam com a privatização e o neoliberalismo. Hoje afirmamos que, além de confirmar nossa análise, ocorreram retrocessos significativos em relação aos direitos humanos já reconhecidos. A Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global. À medida que essa crise se aprofunda, mais as corporações avançam contra os direitos dos povos, a democracia e a natureza, sequestrando os bens comuns da humanidade para salvar o sistema economico-financeiro.

As múltiplas vozes e forças que convergem em torno da Cúpula dos Povos denunciam a verdadeira causa estrutural da crise global: o sistema capitalista patriarcal, racista e homofobico.

As corporações transnacionais continuam cometendo seus crimes com a sistematica violação dos direitos dos povos e da natureza com total impunidade. Da mesma forma, avançam seus interesses através da militarização, da criminalização dos modos de vida dos povos e dos movimentos sociais promovendo a desterritorialização no campo e na cidade.

Da mesma forma denunciamos a divida ambiental histórica que afeta majoritariamente os povos oprimidos do mundo, e que deve ser assumida pelos países altamente industrializados, que ao fim e ao cabo, foram os que provocaram as múltiplas crises que vivemos hoje.

O capitalismo também leva à perda do controle social, democrático e comunitario sobre los recursos naturais e serviços estratégicos, que continuam sendo privatizados, convertendo direitos em mercadorias e limitando o acesso dos povos aos bens e serviços necessarios à sobrevivencia.

A dita “economia verde” é uma das expressões da atual fase financeira do capitalismo que também se utiliza de velhos e novos mecanismos, tais como o aprofundamento do endividamento publico-privado, o super-estímulo ao consumo, a apropriação e concentração das novas tecnologias, os mercados de carbono e biodiversidade, a grilagem e estrangeirização de terras e as parcerias público-privadas, entre outros.

As alternativas estão em nossos povos, nossa historia, nossos costumes, conhecimentos, práticas e sistemas produtivos, que devemos manter, revalorizar e ganhar escala como projeto contra-hegemonico e transformador.

A defesa dos espaços públicos nas cidades, com gestão democrática e participação popular, a economia cooperativa e solidaria, a soberania alimentar, um novo paradigma de produção, distribuição e consumo, a mudança da matriz energética, são exemplos de alternativas reais frente ao atual sistema agro-urbano-industrial.

A defesa dos bens comuns passa pela garantia de uma série de direitos humanos e da natureza, pela solidariedade e respeito às cosmovisões e crenças dos diferentes povos, como, por exemplo, a defesa do “Bem Viver” como forma de existir em harmonia com a natureza, o que pressupõe uma transição justa a ser construída com os trabalhadores/as e povos.

Exigimos uma transição justa que supõe a ampliação do conceito de trabalho, o reconhecimento do trabalho das mulheres e um equilíbrio entre a produção e reprodução, para que esta não seja uma atribuição exclusiva das mulheres. Passa ainda pela liberdade de organização e o direito a contratação coletiva, assim como pelo estabelecimento de uma ampla rede de seguridade e proteção social, entendida como um direito humano, bem como de políticas públicas que garantam formas de trabalho decentes.

Afirmamos o feminismo como instrumento da construção da igualdade, a autonomia das mulheres sobre seus corpos e sexualidade e o direito a uma vida livre de violência. Da mesma forma reafirmamos a urgência da distribuição de riqueza e da renda, do combate ao racismo e ao etnocídio, da garantia do direito a terra e território, do direito à cidade, ao meio ambiente e à água, à educação, a cultura, a liberdade de expressão e democratização dos meios de comunicação.

O fortalecimento de diversas economias locais e dos direitos territoriais garantem a construção comunitária de economias mais vibrantes. Estas economias locais proporcionam meios de vida sustentáveis locais, a solidariedade comunitária, componentes vitais da resiliência dos ecossistemas. A diversidade da natureza e sua diversidade cultural associada é fundamento para um novo paradigma de sociedade.

Os povos querem determinar para que e para quem se destinam os bens comuns e energéticos, além de assumir o controle popular e democrático de sua produção. Um novo modelo enérgico está baseado em energias renováveis descentralizadas e que garanta energia para a população e não para as corporações.

A transformação social exige convergências de ações, articulações e agendas a partir das resistências e alternativas contra hegemônicas ao sistema capitalista que estão em curso em todos os cantos do planeta. Os processos sociais acumulados pelas organizações e movimentos sociais que convergiram na Cúpula dos Povos apontaram para os seguintes eixos de luta:
  • Contra a militarização dos Estados e territórios;
  • Contra a criminalização das organizações e movimentos sociais;
  • Contra a violência contra as mulheres;
  • Contra a violência as lesbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgeneros;
  • Contra as grandes corporações;
  • Contra a imposição do pagamento de dívidas econômicas injustas e por auditorias populares das mesmas;
  • Pela garantia do direito dos povos à terra e território urbano e rural;
  • Pela consulta e consentimento livre, prévio e informado, baseado nos princípios da boa fé e do efeito vinculante, conforme a Convenção 169 da OIT;
  • Pela soberania alimentar e alimentos sadios, contra agrotóxicos e transgênicos;
  • Pela garantia e conquista de direitos;
  • Pela solidariedade aos povos e países, principalmente os ameaçados por golpes militares ou institucionais, como está ocorrendo agora no Paraguai;
  • Pela soberania dos povos no controle dos bens comuns, contra as tentativas de mercantilização;
  • Pela mudança da matriz e modelo energético vigente;
  • Pela democratização dos meios de comunicação;
  • Pelo reconhecimento da dívida histórica social e ecológica;
  • Pela construção do DIA MUNDIAL DE GREVE GERAL.
Voltemos aos nossos territórios, regiões e países animados para construirmos as convergências necessárias para seguirmos em luta, resistindo e avançando contra os sistema capitalista e suas velhas e renovadas formas de reprodução.

Em pé continuamos em luta!

Rio de Janeiro, 15 a 22 de junho de 2012.
 
Cúpula dos Povos por Justiça Social e ambiental 
em defesa dos bens comuns, contra a mercantilização da vida.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Cúpula dos Povos: Assembleia define soluções dos povos para crise global


Na tarde desta quinta-feira (21) aconteceu a penúltima Assembleia dos povos, onde foram apresentadas soluções para combater a crise mundial. Amanhã pela manhã acontecerá a terceira e última assembleia que revelará as metas, compromissos e lutas das organizações envolvidas na Cúpula para os próximos anos.

Ao longo desta matéria, você poderá conferir todos os documentos apresentados na Assembleia, formulados durante as cinco Plenárias de Convergência, realizadas, nos dias 16 e 17 de junho. Por ora, apresentamos um breve resumo do que ficou definido e servirá de base para o documento que será entregue amanhã para o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon.

No âmbito dos Direitos (por justiça social e ambiental), que corresponde à Plenária 1, ficou acordado que para garantir esses direitos é preciso, dentre outras medidas, fortalecer os direitos humanos e mudar as políticas públicas, o sistema de produção capitalista que domina, oprime e promove o etnocídio das culturas populares.

Em relação à defesa dos bens comuns e à mercantilização da vida (Plenária 2), acordou-se que, para ter direito à terra e ao território, é preciso haver uma regulamentação fundiária. E a Cartografia Social, segundo as organizações participantes, é um instrumento para atingir esse objetivo. É preciso que haja políticas públicas destinadas a estruturar essas mudanças e financiar projetos socioambientais para as comunidades.

A soberania alimentar, defendida na Plenária 3, determinou que, para obtê-la, é necessário fortalecer o pequeno agricultor, o camponês e o indígena. É preciso controlar o uso de agrotóxitos em escala industrial e fortalecer o ideário da agroecologia.

Em relação a energia e às indústrias extrativas, assunto da Plenária 4, ficou acordado que as energias renováveis e de controle descentralizado são a saída para a crise energética mundial. É preciso ainda que as organizações que poluem e causam impactos ambientais negativos sejam adequadamente punidas.

Sobre o trabalho, debatido na Plenária 5, ficou decidido que a reforma agrária, a abolição do agronegócio e a negação à mercantilização da natureza são medidas importantes para regulamentar e humanizar o trabalho. A punição para a violação de direitos trabalhistas também é um dos temas defendidos pelas organizações participantes da Cúpula dos Povos.

Fonte: http://cupuladospovos.org.br/

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Cúpula dos Povos: Plenária sobre energia


Novas alternativas para a geração de energia é assunto recorrente a ser debatido. Aqui na Cúpula não foi diferente: o assunto foi o tema principal na plenária “Energia e indústrias extrativas”, que aconteceu em dois turnos, pela manhã e à tarde. Representantes de organizações e de movimentos sociais da América Latina, América do Norte, Europa e da África expuseram brevemente seus pontos de vista, a fim de debater ideias e propor possíveis soluções.

É impossível falar de novas alternativas sem mencionar as indústrias que se apropriam do processo de extração e transformação da matéria-prima para a geração de energia. Muitas vezes, essas mesmas indústrias, com discursos em prol do desenvolvimento (sustentável), avançam em seus projetos, mas se esquecem de manter as necessidades básicas dos moradores das regiões onde se instalam, ou de cumprir com o papel ambiental que devem seguir.

Problemas estruturais e falsas soluções

Mas qual modelo de desenvolvimento sustentável é esse que não se preocupa com a maneira como a instalação destas empresas é feita? Durante a plenária, discutiu-se muito a questão dessas apropriações que alteram as vidas dos moradores da região, por vezes realocando-os para outros espaços menores e/ou mais distantes da comunidade de origem e do comércio da região. Sem falar, é claro, nos danos sérios ao meio ambiente, como a contaminação dos reservatórios de água, da destruição de biomas e da poluição.

Fabiano Maciça é de Moçambique e discursou na plenária. Ele e seus vizinhos vivem na pele os problemas estruturais causados por grandes empresas que se instalam em áreas onde já havia comunidades estabelecidas, com suas tradições e hábitos.

A Vale, um das maiores mineradoras do mundo, explora carvão e minério em Moçambique. De acordo com o relato de Fabiano, a empresa preocupa-se mais com as atividades exploratórias do que com a alteração na vida daqueles que moram próximo às áreas onde ela exerce suas atividades.

Fabiano conta que a Vale transporta carvão e minério numa distância de 600 km da sua base até o porto. ”Nós, que temos a tradição de comer do lado de fora das nossas casas, já não podemos mais. Além de o comboio passar dentro das nossas propriedades, ainda existe o problema da poluição”, desabafa.

Para o, pior que essa atitude invasiva por parte da empresa é a expropriação. Uma vez expropriados, as vidas dos moradores de uma região mudam completamente. “Nós somos transferidos para espaços muito menores do que a casa que construímos. Ninguém está contra o desenvolvimento. Desenvolvimento, sim. Mas desenvolvimento sustentável”, esclarece.

Mas o que conduz toda essa lógica de degradação? O modelo economico neoloberal e a voracidade do capitalismo, com sua lógica de produção e consumo — que, no fim das contas, o próprio sistema acaba justificando. Gilberto Cervinsky, do Movimento dos Militantes Atingidos por Barragens no Brasil, diz que o capital acelera e pressiona a lógica econômica por novas demandas tecnológicas. Essa lógica, por sua vez, ao invés de libertar, aumenta a exploração sobre os trabalhadores. O sistema econômico faz com que se produza cada vez mais para tornar obsoletas as mercadorias. Isso cria um círculo vicioso e “a energia é um dos polos centrais para essa apropriação”, explica.

Ainda de acordo com Gilberto, o desenvolvimento sustentável defendido na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) é sinônimo de “negócios com alta lucratividade e vida longa”. Tudo isso acabaria se traduzindo na ‘economia verde’, uma justificativa para a intensificação da apropriação da propriedade privada sobre as terras, as reservas minerais, as águas.

Afinal de contas, a “energia é para quê e para quem?”, provoca Gilberto. É preciso que haja a soberania energética para os povos, mas quem acaba por controlá-los são as corporações.

A real solução

Após a exposição dos problemas estruturais e de suas causas, a parte da tarde da Plenária foi dedicada às soluções que os povos propõe aos governos: energias renováveis. Mas, segundo os participantes do debate, é preciso questionar se essa energia sustentável é para todos, já que os bancos, as empresas energéticas, petrolíferas e outros representantes do capital apresentam propostas na Rio+20 oficial justamente sobre essa questão.

As Plenárias de Convergência seguem até amanhã (18). Ao todo são cinco, dedicadas a temas-chaves para a elaboração do documento final da Cúpula dos Povos, que será produzido durante as Assembleias dos Povos: Soberania Alimentar; Energia e indústrias extrativas; Defesa dos bens comuns contra a mercantilização; Direitos, por justiça social e ambiental; Trabalho: por outra economia e novos paradigmas.

Fonte: Cúpula dos Povos

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Caiçaras ganham na Justiça direito de permanecer em Paraty

 

Por três votos a zero, os desembargadores da 15ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) garantiram, nesta terça, a permanência da família caiçara de Manoel dos Remédios, o Seu Maneco, na Fazenda Martins de Sá, santuário ecológico de Paraty, no Rio. O espólio de Antônio Rocha Pacheco requeria a integração de posse da área, com a imediata saída dos caiçaras, que ocupam o espaço há seis gerações. A sessão durou cerca de duas horas. Um grupo de 44 caiçaras comemoraram a decisão em frente à sede do Tribunal de Justiça. A Fazenda Martins de Sá está protegida por duas unidades de conservação.

Fonte: Blog Verde

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Paraty: Destino de praia ecológica será decidido esta semana na Justiça


Martin de Sá: Local poderá continuar com caiçaras ou será destinado a empreendimento imobiliário.

O destino da praia ecológica Martin de Sá será decidido esta semana. Os desembargadores do Tribunal de Justiça de Paraty vão decidir se a população caiçara, tradicional do local, manterá a posse da praia ou se a comunidade será retirada da área para dar lugar a um empreendimento imobiliário.

Local poderá continuar com caiçaras ou será destinado a empreendimento imobiliário

O julgamento é o resultado de uma batalha judicial que se arrasta há mais 14 anos. De um lado, está a família de Manoel de Remédios, conhecido como Seu Maneco. A família vive na região há pelo menos seis gerações - sendo quatro vivas - e mantém as tradições da população caiçara. A praia, considerada uma das poucas bem preservadas na região, fica na Reserva Ecológica da Juatinga, criada em 1992 com o objetivo de fomentar a cultura caiçara. Hoje os pescadores caiçaras que nela resistiram estão se vendo seriamente ameaçados pela especulação imobiliária.

Do outro lado da briga judicial estão os autores de uma ação de reintegração de posse, que falam em nome do espólio de Antônio Rocha Pacheco. Os autores argumentam que contam com a titulação das terras - cerca de 300 alqueires - e exigem a saída imediata dos caiçaras. Especula-se que os autores da ação estão interessados na construção de um empreendimento imobiliário na frente da praia.

- Moramos nesse local há anos, meu avô e meu pai preservaram esse lugar, e como eles se foram e eu fiquei agora é minha obrigação cuidar, e graças a Deus continuo preservando. O problema é que nisso apareceram algumas pessoas com documentos falsos, com escrituras compradas, e estão falando que venderam para uma multinacional e querem porque querem que eu venda o meu direito para eles. Eles estão querendo pegar para eles, fechar e fazer condomínio desse lugar tão encantado - disse o morador Manoel de Remédios.

Há meses, o caso vem repercutindo na cidade de Paraty, com protestos e reclamações dos moradores.
- É a nossa única praia da reserva que está mais preservada. As pessoas vêm e ficam doidas porque tem muita água, muita mata, e por isso gravam tudo e tiram muitas fotos. É um lugar muito bonito que dizem que nós não estamos preservando, e eles que vão cuidar disso. Mas, pelo visto, eles vão fazer pior, vão construir várias coisas e acabar com tudo - comentou Seu Maneco.

O DIÁRIO DO VALE tentou entrar em contato com os representantes do outro lado do processo, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno.

Fonte: Diário do Vale

terça-feira, 12 de junho de 2012

Longe de cartão postal, Baía de Guanabara é retrato da poluição


Imagem aérea mostra lixo no canal Cunha, na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Foto: AFP 
 
Distante da imagem de cartão postal que encanta turistas, a Baía de Guanabara revela uma paisagem dominada pela sujeira, onde pescadores lutam para sobreviver do mar. "Antigamente, um dia de pesca rendia 300 kg de peixe e pagava entre R$ 80 e R$ 100. Hoje, quando dá, o pescador tira 30 kg e ganha entre R$ 10 e R$ 30", relata à AFP Milton Mascarenhas Filho, 62 anos, pescador há 29, presidente da colônia de pesca de Magé, cidade a 60 km do Rio de Janeiro, localizada no norte da baía.

Milton atribui a mudança à poluição industrial, especialmente ao vazamento de cerca de 1 milhão de l de óleo após acidente na refinaria da Petrobras no município vizinho de Duque de Caxias, em janeiro de 2000. "Apesar da poluição, ainda dá para sobreviver da pesca. O difícil é o lixo", reclama Cláudio Batista, 48 anos, pescador desde os 10, enquanto retira da rede alguns poucos peixes entre pedaços de plástico.

A quantidade de resíduos, sobretudo garrafas PET, flutuando na água, impressiona, mas nas margens e nos mangues se encontra de tudo: de roupas e calçados a sofás e tubos de televisão. Os detritos, afirma Milton, são trazidos ao mar pelos rios das cidades vizinhas, que contaminam a água e danificam redes e ''currais'', armadilhas artesanais utilizadas para capturar o pescado.

Uma imensa latrina

A Baía de Guanabara hoje é "uma imensa latrina e lata de lixo", critica o biólogo Mário Moscatelli, que desde 1997 denuncia a degradação ambiental na cidade e no Estado do Rio. "É muito afetada pela grande carga orgânica que recebe dos rios que sofrem lançamento de esgotos sanitários indiscriminadamente", admite Gerson Serva, coordenador de um projeto de saneamento da baía, a cargo do governo estadual.

Serva explica que os quinze municípios com rios que deságuam na Baía de Guanabara lançam ali 20 mil l por segundo de esgotos. Deste total, cerca de um terço é tratado e outros 10% sofrem um processo natural de decomposição.

O problema é antigo, mas a solução parece distante. Lançado durante a ECO-92, o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara consumiu cerca de US$ 1 bilhão em recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), com contrapartida do governo do Estado. O PDBG previa instalação de redes coletoras, ligações domiciliares e estações de tratamento de esgoto, mas 20 anos depois, está inacabado.

"O PDBG foi o maior programa de saneamento já desenvolvido no Estado do Rio de Janeiro, entretanto teve muitas falhas em sua gestão e deixou um conjunto de obras inacabadas", reconhece Gerson Serva. "Esse programa é o resultado mais claro da certeza da impunidade governamental, onde o administrador público tem certeza de que pode fazer praticamente tudo com o dinheiro público que não lhe acontecerá praticamente nada", acusa Moscatelli.

Recentemente, o governo estadual assinou novo contrato com o BID para outro programa voltado para a baía, o Plano de Saneamento Ambiental dos Municípios no Entorno da Baía de Guanabara (PSAM), que Serva coordena. Com orçamento de US$ 640 milhões, o plano prevê construção, ampliação e melhoria da rede de esgoto no centro e na zona norte da cidade do Rio e municípios vizinhos da Baixada Fluminense e São Gonçalo.

Aposta na recuperação dos manguezais

Para Moscatelli, resolver o problema, atacando as causas, exigiria políticas públicas de habitação, transporte e saneamento pelos próximos 15 a 20 anos. Mas, afirma, ações de curto prazo, como a recuperação de manguezais, permitem enfrentar as consequências da degradação.

Há 12 anos, o projeto Mangue Vivo, instalado em Magé, tem como meta recuperar a vegetação destruída pela contaminação e pelo desmatamento às margens da baía. O projeto, sob responsabilidade da ONG Onda Azul, se concentra em parte do total de 1,64 km² que precisam ser recuperados, e visa a transformar a área reflorestada em um parque ecológico aberto à visitação, mas enfrenta problemas de financiamento, enquanto a retirada do lixo que se acumula no local atrasa o replantio.

Adeimantus da Silva, coordenador do trabalho de campo, e José dos Santos, ambos funcionários da ONG, inventaram um envoltório de garrafas PET para proteger as mudas dos predadores, que é retirado quando a planta está crescida. Graças à técnica, 120 mil m² de mangue foram reflorestados e uma segunda área de 160 mil m² teve 40% da vegetação recuperada. "O mangue é um verdadeiro berçário marinho. Temos um grande número de aves, mamíferos e répteis já catalogados. Peixes de espécies comerciais, como tainha e corvina, e 70% dos caranguejos que viviam no local se reproduzem e já são encontrados no manguezal recuperado", comemora Silva.
 
Fonte: Terra
 

terça-feira, 5 de junho de 2012

Movimento de pescadores tradicionais lança movimento por criação de territórios exclusivos para pesca artesanal

Pescadores artesanais de várias partes do país deram início, hoje (5), em Brasília (DF), à campanha Território Pesqueiro: Biodiversidade, Cultura e Soberania Alimentar do Povo Brasileiro.

Organizada pelo Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil (MPPB), a iniciativa visa recolher, até 2015, 1,3 milhão de assinaturas favoráveis à aprovação, pelo Congresso Nacional, de uma lei de iniciativa popular que reconheça e garanta o direito das comunidades pesqueiras tradicionais sobre os territórios onde vivem e de onde retiram seu sustento.

O movimento espera que, com a aprovação de uma lei específica, os territórios tradicionais pesqueiros passem a ser vistos como patrimônio cultural material e imaterial, estando, portanto, sujeitos à proteção especial contra especulação imobiliária e instalação de grandes projetos econômicos que limitem ou interfiram nas atividades já desenvolvidas por pescadores artesanais.

Segundo o texto do projeto, ao qual a Agência Brasil teve acesso, com a eventual aprovação da lei, os integrantes das comunidades tradicionais teriam garantido o acesso e o usufruto preferencial aos recursos naturais de toda a extensão de terra ou de corpos d´água onde vivam e trabalhem, assim como daqueles que sirvam de abrigo para espécies marítimas ou em que haja recursos necessários à preservação do modo de vida característico dos pescadores artesanais.

Ainda de acordo com o projeto elaborado pelo movimento, caberia às próprias pessoas se identificarem como integrantes de uma comunidade de pescadores tradicionais. Feito isso, os profissionais seriam inscritos por meio de um mecanismo denominado Cadastro Geral das Comunidades Tradicionais Pesqueiras, cuja criação também está prevista no projeto de lei popular, que, conforme propõe o movimento, ficaria sob a responsabilidade do Ministério da Cultura.

Entre vários outras coisas, o projeto ainda estabelece que os territórios tradicionais sejam reconhecidos como áreas de preservação e de relevante interesse social, cultural e ambiental, cabendo ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) retirar os ocupantes que não façam parte da comunidade pesqueira. A exemplo do que já ocorre com reservas indígenas e quilombos, também caberia ao Poder Público, quando necessário, desapropriar, por interesse social, imóveis urbanos e rurais.

Presente ao lançamento da campanha, o ministro da Pesca, Marcelo Crivella, disse à Agência Brasil que algumas das propostas contidas no projeto de lei elaborado pelo movimento podem ser colocadas em prática.

"Acho que podemos chegar a um acordo. É possível mantermos os direitos dos pescadores tradicionais, sem paralisar o Brasil. [A criação de] Territórios, por exemplo, eu acho que poderia ser o primeiro artigo de uma lei de compensação. O que não pode ocorrer é que grandes empreendimentos compensem quem não precisa, enquanto o pescador artesanal é prejudicado", disse o ministro, assegurando que sua prioridade à frente do ministério é dar maior atenção à pesca artesanal. O segmento responde por cerca de 70% do pescado consumido no país e por 45% da produção total.

"É o pescador artesanal quem está realmente precisando que o ministério, por meio de políticas públicas, atenda suas necessidades", disse o ministro pouco antes de deixar o Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Desde ontem (4), cerca de 2 mil pessoas de várias partes do país se reúnem no local, dormindo em barracas de camping ou sobre colchões, em meio a faixas de protesto contra grandes empreendimentos de aquicultura, construção de barragens e hidrelétricas, descarte de resíduos industriais em rios, falta de assistência técnica para pescadores, artigos do Código Florestal, entre outras reivindicações.

"O ministro foi humilde quando tomou posse [no cargo] e disse que não sabia colocar uma minhoca no anzol. Pois estamos aqui para ensinar ele a trabalhar de acordo e fortalecer a pesca artesanal brasileira. Não queremos ser obrigados a mudar de profissão. Queremos ser ouvidos e opinar sobre o que vai ser feito com as áreas pesqueiras do país. Quem for aquicultor, que seja, mas que não venham destruir a pesca artesanal dizendo que não há mais peixes nos rios e no mar", disse a pernambucana Maria das Neves dos Santos, a Maria das Águas, uma das lideranças do movimento.

Pescador há 58 anos, o baiano Geraldo Dias de Souza, mencionou a construção da barragem de Sobradinho, na Bahia, durante a década de 1970, como exemplo dos efeitos de alguns projetos para as comunidades tradicionais.

"Fomos enganados. Disseram que iam nos dar terras, casas, garantir a sustentabilidade dos agricultores e pescadores, mas nunca mais conseguimos recuperar o que tínhamos. Antigamente, com pouca linha, nós pegávamos bastante peixe. Hoje, com muito mais linha, não conseguimos nem uma parte daquela mesma quantidade de pescado", disse Souza.

Dos cerca de 970 mil profissionais de pesca licenciados até setembro de 2011, 957 mil são autônomos, ou seja, não têm vínculos empregatícios com empresas ou donos de embarcações, podendo ser classificados como artesanais. Já a pesca industrial, caracterizada pelo uso de embarcações de médio e grande porte e pela relação empregatícia entre armadores e trabalhadores, envolve 40 mil profissionais somente no setor de captura.

Fonte: Agência Brasil




Leia a Carta na íntegra:
 

CARTA DO MOVIMENTO DOS PESCADORES E PESCADORAS ARTESANAIS

Somos 65 homens e mulheres de 11 estados brasileiros, pertencemos ao Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais, estivemos reunidos em assembléia, de 05 a 09 de abril de 2010, em Acupe de Santo Amaro, Recôncavo Baiano, e redefinimos os princípios, objetivos e estratégias para o fortalecimento da luta dos pescadores e pescadoras artesanais no Brasil. Decidimos assumir um novo nome para o movimento com objetivo de simbolizar o rompimento com um modelo institucional e representativo que não foi capaz de acolher as lutas e sonhos dos povos das águas. Assim, não estamos vinculados a qualquer instituição.

A base do movimento são os grupos de pescadores e pescadoras artesanais nas comunidades que assumem os objetivos do movimento de forma organizada e que se fortalecem a partir de coordenações locais, regionais, estaduais e nacional. A participação efetiva de mulheres e jovens marca este novo momento da organização dos pescadores e pescadoras. A presença negra e indígena marca profundamente a nossa identidade. Acreditamos no poder popular e assumimos a missão de organizar e formar os lutadores do povo nas águas, como contribuição histórica para a construção de uma sociedade justa.

Ressaltamos que esta Assembléia foi uma deliberação da I Conferencia da Pesca Artesanal realizada em Brasília, entre os dias 28 e 30 de setembro de 2009. Pescadores e pescadoras artesanais de todo o Brasil construíram esse momento que reuniu cerca de mil pessoas para avaliar as conquistas, desafios para a pesca artesanal no Brasil e traçar perspectivas para o fortalecimento da luta.

Afirmamos como nossas principais bandeiras de luta: defesa do território e do meio ambiente em que vivemos. Lutamos pelo respeito aos direitos e igualdade para as mulheres pescadoras; pela garantia de direitos sociais; por condições adequadas para produzir e viver com dignidade. Resistimos ao modelo de desenvolvimento que esmaga as comunidades pesqueiras e se concretiza a partir de grandes projetos que concentram a riqueza e degradam o meio ambiente. Queremos combater o capitalismo e sua lógica excludente. Pretendemos construir um projeto popular para o Brasil e contribuir para as transformações mais amplas da sociedade. Para cumprir nossa missão estamos articulados com outros movimentos campesinos no Brasil. Integramos a Via Campesina e a Assembléia Popular.

Temos como perspectiva: intensificar o processo de formação nas bases, fortalecer a organização interna para melhor planejar e desenvolver as ações em todas as esferas de atuação do movimento. Ampliar os laços de solidariedade e cooperação entre os movimentos sociais no Brasil e na América Latina; defender o meio ambiente e o território tradicional dos pescadores; conquistar a implantação de uma política pesqueira voltada para a soberania do povo brasileiro.

No rio e no mar: pescador na luta!!!

No açude e na barragem: pescando a liberdade!!!

Hidronegócio: Resistir!!!

Cerca nas águas: Derrubar!!!


Fonte: http://cppnorte.wordpress.com/carta-do-movimento-dos-pescadores-e-pescadoras-artesanais/

Reviver

Dia Mundial do meio ambiente e eu me lembei desta postagem:

http://cardumebrasil.blogspot.com.br/2011/12/o-menino-e-o-siri-2009.html

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Portugal: Tudo sobre sardinha


QUAL É A MELHOR SARDINHA, A DO SUL OU A DO NORTE?

Não queremos armar zaragatas nem ferir sensibilidades, mas o que se pode dizer sobre a matéria é que o tamanho conta alguma coisa. E aqui a regra é que quanto maior, pior. Uma sardinha muito grande pode ter gordura em excesso, tão enjoativa que não se consegue comer mais do que duas ou três. Como de costume, os pescadores são a melhor referência.

Quem comer com eles verá que nem tocam nas sardinhas grandes. Preferem – na linguagem de Sesimbra – as ‘meio-peixe’, que é uma sardinha de tamanho logo a seguir a uma petinga. E faz sentido porque uma sardinha ‘meio-peixe’ pinga na mesma no pão, mas não tem escamas duras nem aquelas espinhas rijas que por vezes pregam partidas. As meio-peixe deixam-se comer mais facilmente.

SE ESTIVER FARTO DE SARDINHAS GRELHADAS, QUE OUTRA SOLUÇÃO TEM PARA AS APRECIAR DE FORMA SIMPLES?

Albardadas. É um petisco e tanto. Marinam-se os filetes em limão, passam-se por um polme e fritam-se. Receitas na internet não faltam. Mais difícil é fazer filetes das sardinhas, visto que o peixe é muito frágil. Mas uma cadeia de supermercados que agora anda na boca de toda a gente costuma vender os filetes já limpinhos.

PORQUE SERÁ QUE A SARDINHA DO SUL É MAIS PEQUENA DO QUE A DO NORTE?

A sardinha capturada no Algarve é mais pequena do que aquela capturada no Atlântico mais a norte porque as águas quentes do Sul são mais pobres em alimento para a sardinha (plâncton e fitoplâncton). A Norte, com mais frio, há mais alimento nas águas. Daí que a sardinha cresça mais.

A Norte - 12 a 14 sardinhas por quilo

A Sul - 18 a 20 sardinhas por quilo

QUANDO É QUE A SARDINHA ESTÁ MESMO NO PONTO?

Diz o ditado que no ‘São João a sardinha pinga no pão’, o que significa que já está gorda, mas isso, como se compreende, depende muito das temperaturas das águas e da alimentação dos peixes. Primaveras mais frias atrasam o ciclo de vida dos peixes, pelo que o tal nível de gordura desejável pode só ser atingido no início de Julho. Donde, pingar ou não no pão, tudo depende do tempo.

O QUE É O MSC?

É um selo de certificação internacional (Marine Stewardship Council), que podemos traduzir por Conselho de Protecção Marinha. Um peixe que ostente este selo revela que os stocks são abundantes e as artes de pesca correctas. A sardinha foi o único peixe ibérico a ter direito a este selo durante dois anos. Em 2012 o selo foi suspenso porque o nível do stock de sardinha caiu abruptamente.

Fonte: Correio da Manhã

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Livro: Sardinha


Um livro que é vendido na rua, não nas livrarias. Não podia ser de outra forma quando o tema pede ar livre. A sardinha é bem capaz de ser o maior monumento à vida pública portuguesa. Diz a tradição que deve ser cozinhada e comida na rua, de preferência com boa conversa. E foi por isso mesmo que a Limão Edições decidiu criar um novo conceito literário. SARDINHA é o primeiro livro de rua português.

Este é um livro vendido exclusivamente em espaços públicos, quase sempre ao ar livre. Várias Sardinettes andarão durante o mês de Junho a vender os livros nos principais eventos das festas da cidade. Das noites de fado no Castelo de São Jorge às Marchas Populares. Não vai ser por isso possível comprá-lo nos circuitos característicos do mercado livreiro. Apenas na rua e na web.

São 64 páginas todas dedicadas ao peixe mais emblemático do país – seja no volume de pesca, seja no de consumo. Bem vistas as coisas, um português sabe que o verão está a chegar quando sente o cheiro das sardinhas a assar na brasa. Com séculos e séculos de presença no território, é um peixe transversal a escalões etários e classes sociais. A sardinha tem um sério caso de amor com Portugal. Discreto, mas arrebatador. Já era tempo de lhe prestar a devida homenagem.

Neste livro, faz-se o relato e a apologia de um peixe, por texto e imagem. Os pescadores e as peixeiras, os assadores e os comensais, fogareiros e carvão, pimentos e batatas – todo o universo da sardinhada é tratado como se de um tesouro se tratasse. Não fosse a sardinha o peixe que chega à brasa prata e se torna ouro. Um tesouro, lá está.

 

SARDINHA

Fotografia: Luís Silva Campos e Pedro Loureiro

Design: Luís Alegre

Textos: Ricardo J. Rodrigues

N.º de páginas: 64

Capa dura: 19×19 cm

Data de lançamento: 31 de Maio

Edição: Bilingue Português/Inglês

Preço de lançamento: 10 €

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