segunda-feira, 18 de junho de 2012
Cúpula dos Povos: Plenária sobre energia
Novas alternativas para a geração de energia é assunto recorrente a ser debatido. Aqui na Cúpula não foi diferente: o assunto foi o tema principal na plenária “Energia e indústrias extrativas”, que aconteceu em dois turnos, pela manhã e à tarde. Representantes de organizações e de movimentos sociais da América Latina, América do Norte, Europa e da África expuseram brevemente seus pontos de vista, a fim de debater ideias e propor possíveis soluções.
É impossível falar de novas alternativas sem mencionar as indústrias que se apropriam do processo de extração e transformação da matéria-prima para a geração de energia. Muitas vezes, essas mesmas indústrias, com discursos em prol do desenvolvimento (sustentável), avançam em seus projetos, mas se esquecem de manter as necessidades básicas dos moradores das regiões onde se instalam, ou de cumprir com o papel ambiental que devem seguir.
Problemas estruturais e falsas soluções
Mas qual modelo de desenvolvimento sustentável é esse que não se preocupa com a maneira como a instalação destas empresas é feita? Durante a plenária, discutiu-se muito a questão dessas apropriações que alteram as vidas dos moradores da região, por vezes realocando-os para outros espaços menores e/ou mais distantes da comunidade de origem e do comércio da região. Sem falar, é claro, nos danos sérios ao meio ambiente, como a contaminação dos reservatórios de água, da destruição de biomas e da poluição.
Fabiano Maciça é de Moçambique e discursou na plenária. Ele e seus vizinhos vivem na pele os problemas estruturais causados por grandes empresas que se instalam em áreas onde já havia comunidades estabelecidas, com suas tradições e hábitos.
A Vale, um das maiores mineradoras do mundo, explora carvão e minério em Moçambique. De acordo com o relato de Fabiano, a empresa preocupa-se mais com as atividades exploratórias do que com a alteração na vida daqueles que moram próximo às áreas onde ela exerce suas atividades.
Fabiano conta que a Vale transporta carvão e minério numa distância de 600 km da sua base até o porto. ”Nós, que temos a tradição de comer do lado de fora das nossas casas, já não podemos mais. Além de o comboio passar dentro das nossas propriedades, ainda existe o problema da poluição”, desabafa.
Para o, pior que essa atitude invasiva por parte da empresa é a expropriação. Uma vez expropriados, as vidas dos moradores de uma região mudam completamente. “Nós somos transferidos para espaços muito menores do que a casa que construímos. Ninguém está contra o desenvolvimento. Desenvolvimento, sim. Mas desenvolvimento sustentável”, esclarece.
Mas o que conduz toda essa lógica de degradação? O modelo economico neoloberal e a voracidade do capitalismo, com sua lógica de produção e consumo — que, no fim das contas, o próprio sistema acaba justificando. Gilberto Cervinsky, do Movimento dos Militantes Atingidos por Barragens no Brasil, diz que o capital acelera e pressiona a lógica econômica por novas demandas tecnológicas. Essa lógica, por sua vez, ao invés de libertar, aumenta a exploração sobre os trabalhadores. O sistema econômico faz com que se produza cada vez mais para tornar obsoletas as mercadorias. Isso cria um círculo vicioso e “a energia é um dos polos centrais para essa apropriação”, explica.
Ainda de acordo com Gilberto, o desenvolvimento sustentável defendido na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) é sinônimo de “negócios com alta lucratividade e vida longa”. Tudo isso acabaria se traduzindo na ‘economia verde’, uma justificativa para a intensificação da apropriação da propriedade privada sobre as terras, as reservas minerais, as águas.
Afinal de contas, a “energia é para quê e para quem?”, provoca Gilberto. É preciso que haja a soberania energética para os povos, mas quem acaba por controlá-los são as corporações.
A real solução
Após a exposição dos problemas estruturais e de suas causas, a parte da tarde da Plenária foi dedicada às soluções que os povos propõe aos governos: energias renováveis. Mas, segundo os participantes do debate, é preciso questionar se essa energia sustentável é para todos, já que os bancos, as empresas energéticas, petrolíferas e outros representantes do capital apresentam propostas na Rio+20 oficial justamente sobre essa questão.
As Plenárias de Convergência seguem até amanhã (18). Ao todo são cinco, dedicadas a temas-chaves para a elaboração do documento final da Cúpula dos Povos, que será produzido durante as Assembleias dos Povos: Soberania Alimentar; Energia e indústrias extrativas; Defesa dos bens comuns contra a mercantilização; Direitos, por justiça social e ambiental; Trabalho: por outra economia e novos paradigmas.
Fonte: Cúpula dos Povos
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