segunda-feira, 10 de junho de 2013

Cores vibrantes aumentam apetite em peixes


As cores quentes e vibrantes, como o vermelho, o laranja e o amarelo, costumam ser utilizadas estrategicamente nos restaurantes e na comunicação visual das cadeias de fast food para atrair consumidores. Isso porque, apesar de não ter sido comprovado cientificamente, muitos consideram que elas podem estimular o metabolismo e aumentar o apetite das pessoas.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, e publicado na revista PLoS One, demonstrou que algumas dessas tonalidades de cores podem exercer o mesmo efeito sobre espécies de peixes.

Os pesquisadores constataram que a cor vermelha aumenta o apetite e a ingestão de ração pela tilápia nilótica (Oreochromis niloticus) – uma espécie de peixe cultivada em vários países, além do Brasil, e muito sensível a diferentes comprimentos de ondas de luz. O aumento do apetite e da ingestão de ração por essa espécie de peixe, no entanto, não levou ao aumento do peso do animal.

“Observamos que a cor vermelha estimula a alimentação de peixes. O aumento da ingestão de ração, contudo, não foi convertido em maior crescimento do animal”, disse Gilson Luiz Volpato, professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu e um dos autores da pesquisa à Agência FAPESP.

Os pesquisadores mantiveram durante quatro semanas diferentes grupos de tilápias nilóticas em aquários de vidro, cobertos com papel celofane nas cores branca, azul, verde, amarela e vermelha e sob níveis de luz semelhantes – uma vez que a intensidade da luz pode influenciar no crescimento dos peixes. Os animais foram alimentados uma vez por dia.

Após o período de aclimatação, foram avaliados e medidos durante mais quatro semanas os efeitos crônicos das cores sobre a adaptação dos peixes ao novo ambiente com luzes coloridas, além do tempo que demoravam para iniciar a alimentação, a quantidade de ração que ingeriam e a conversão do que consumiam em crescimento.

O experimento revelou que os peixes mantidos no aquário com luz vermelha iniciavam a alimentação mais rapidamente e consumiam maiores quantidades de ração do que os peixes criados nos aquários com outras cores. O peso de todos eles, no entanto, foi semelhante.

“Há algum fator que ainda não conseguimos identificar que faz com que os peixes expostos à luz vermelha ingiram quantidades maiores de ração e não ganhem mais peso”, disse Volpato. “Uma hipótese é que o excesso do alimento absorvido foi canalizado para processos físicos que exigem gasto de energia do animal, como a própria natação. Mas essa questão deve ser mais bem investigada.”

Para descartar a hipótese de que em um ambiente com luz vermelha os peixes conseguem enxergar melhor o alimento na água – e, por isso, iniciam a alimentação mais rapidamente e ingerem maiores quantidades de ração do que os animais mantidos em ambientes com outras tonalidades –, os pesquisadores fizeram outro experimento em que forneceram ração para as tilápias nilóticas mantidas no aquário com cor vermelha com a luz desligada.

As gravações do experimento com câmeras infravermelho, que filmam no escuro, mostraram que, mesmo sob a ausência de luz, os peixes em ambiente com cor vermelha se aproximavam mais rápido da ração e começavam a se alimentar mais rapidamente do que os animais mantidos nos aquários com outras cores.

Já para avaliar se, além da visão, outros sentidos do peixe estão envolvidos em sua sensibilidade ao alimento, os pesquisadores realizaram um terceiro experimento, no qual diluíram uma ração solúvel na superfície de um dos cantos dos aquários, na direção contrária a que os peixes estavam, e mediram o tempo que os animais levavam para se aproximar do alimento.

O teste demonstrou, mais uma vez, que os peixes mantidos no aquário com luz vermelha reagiram mais rapidamente ao estímulo olfativo do que os animais criados nos aquários com outras cores.

“Descobrimos com esse experimento que os peixes foram, sem dúvida, atraídos por estímulos químicos, o que reforça a hipótese de que a cor vermelha não exerce efeito apenas na visão do animal”, disse Volpato. “Provavelmente, a cor vermelha também pode afetar o sistema nervoso central desses animais.”

Aplicações em piscicultura

Na avaliação de Volpato, as descobertas do estudo abrem a perspectiva de realizar pesquisas sobre os mecanismos pelos quais as cores podem afetar os animais e como elas agem no sistema nervoso central de peixes.

Em outro estudo, publicado em 2001 no Brazilian Journal of Medical and Biological Research, o mesmo grupo da Unesp demonstrou que as cores modulam o nível de hormônio cortisol, produzido em reações de estresse, de peixes.

Durante os experimentos, os pesquisadores constataram que os peixes expostos a ambientes com cores claras, como a azul, quando submetidos a um fator estressante, elevaram menos os níveis de cortisol no sangue do que aqueles mantidos em aquários com cores branca ou verde.

“Temos dados que mostram que, de fato, o azul é uma cor que melhora o bem-estar dos animais, enquanto o vermelho é uma tonalidade que incomoda”, comparou Volpato.

“Apesar de causar o aumento do apetite e da ingestão da quantidade de ração pelas tilápias nilóticas, a cor vermelha parece ser prejudicial para essa espécie de peixe”, avaliou.

Os resultados dos estudos, segundo o pesquisador, também podem auxiliar zootecnistas e profissionais que atuam na área de piscicultura (criação de peixes comestíveis e ornamentais) a desenvolver técnicas para promover o bem-estar dos animais em viveiros e tanques-rede, por exemplo.

“Pode-se colocar celofane em cima de incubadoras para mudar a cor do ambiente para o animal e aumentar o bem-estar dele”, exemplificou Volpato. “Em tanques em terra isso é mais difícil, mas também é possível”, avaliou.

O pesquisador orienta atualmente uma pesquisa de doutorado, realizada com Bolsa da FAPESP, por meio da qual pretende-se avaliar se as escolhas e preferências de cores são suficientes para manter o bem-estar de peixes.

No início de agosto, a doutoranda Caroline Marques Maia, orientada por Volpato, iniciará um estágio de pesquisa na Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, também com Bolsa da FAPESP, por meio do qual irá comparar as preferências de cores da tilápia nilótica e da truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss).

“Essa área de pesquisa de análise da influência das cores na alimentação, crescimento, reprodução, estresse e sobrevivência de peixes está começando a se desenvolver no Brasil, disse Volpato.

“O nosso trabalho é o primeiro que demonstra que a cor vermelha aumenta o apetite, mas não aumenta o crescimento de peixes”, afirmou Volpato.

O artigo Red light stimulates feeding motivation in fish but does not improve growth(doi:10.1371/journal.pone.0059134), de Volpato e outros, pode ser lido na PloS One emwww.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0059134.


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