Icapuí. Tiros e confusão romperam, mais uma vez, o silêncio no litoral de Icapuí. Em mais um episódio da Guerra da Lagosta, a ação surpresa da Polícia Federal e da Marinha ocorreu no início da manhã de ontem. Quase 100 homens desembarcaram na Praia de Redonda apreenderam os dois barcos que os pescadores artesanais utilizavam, por conta própria, para a fiscalização contra a pesca predatória, predominante na região.
Na praia da redonda, agentes federais realizaram uma verdadeira operação de guerra para combater a fiscalização que era feita por pescadores artesanais na ausência do Ibama.
Houve bate-boca e repressão por parte dos policiais, que jogaram gás lacrimogêneo apesar da presença de mulheres e crianças no grupo. Revoltados, os "redondeiros" da pesca artesanal pedem que a Polícia também "tenha competência" para apreender os equipamentos dos pescadores "ilegais", principal motivo do conflito.
No episódio anterior da Guerra da Lagosta, o Caderno Regional falou sobre a mobilização de comunidades para ajudar Francisco Assis Cruz, o "Assis da Redonda", motorista que teve seu veículo alternativo incendiado por pescadores que defendem a pesca predatória como revide à ação de pescadores da Redonda que haviam apreendido mais um barco ilegal. Não tendo nenhum envolvimento com os dois lados da briga, ser da Redonda foi o pecado a condenar seu Assis.
Ainda era madrugada quando, dezenas de agentes da Marinha e da Polícia Federal, com armas em punho, seguiam na captura das embarcações Monsenhor Diomedes I e II. Os barcos eram a principal "arma" dos redondeiros contra os pescadores ilegais. Era com esses barcos que os pescadores de Redonda faziam a fiscalização contra a pesca ilegal com marambaias e compressores para mergulho. A fiscalização é uma atribuição do Ibama, mas o próprio Instituto reconhece a carência de equipamentos e pessoal para cobrir os mais de 500km de costa.
Ontem era dia de buscar lagosta, e os pescadores artesanais tinham seguido ainda de noite para o mar, antes da operação policial. Com exceção dos poucos pescadores que estavam em terra, a comunidade estava povoada de mulheres e crianças. Quando avistaram as embarcações da Marinha se aproximando, alguns homens tentaram subir nas embarcações Monsenhor Diomedes.
Em terra, dezenas de agentes em cerca de dez carros obrigaram os pescadores a se afastarem do objeto que seria apreendido. Na confusão, houve gritos, e tiros com balas de borracha foram disparados. Para intimidar o início de revolta, os policiais ainda jogaram uma bomba de gás lacrimogêneo, de efeito moral, mesmo num ambiente tomado de esposas e filhos dos pescadores.
Dois dias antes, na madrugada de sábado para domingo, na ausência de fiscalização do Ibama, os pescadores da Redonda, armados e viajando nas embarcações Monsenhor Diomedes I e II, fizeram a apreensão da embarcação Números, que fazia a pesca predatória, utilizando mergulho com compressor, equipamento proibido pelo Ibama. O barco é de propriedade do pescador Sandro José da Silva. Os tripulantes confessaram ter jogado, assim que avistaram os redondeiros, cerca de 200kg de lagosta no mar, capturados com compressor feito com gás de cozinha. O barco juntou-se a outros dez capturados e encalhados na praia, de um total 13 que já se haviam apreendidos desde que os redondeiros decidiram assumir a fiscalização por conta própria. Os pescadores ilegais, para não terem o risco de serem linchados pela população, foram abandonados na Praia de Peroba, de onde tomaram o rumo da comunidade de Quitéria, vizinha a Tremembé, que juntamente com Barrinha constituem os principais pontos de pesca predatória em Icapuí.
"A Polícia Federal pegou os barcos, mas devia fazer o mesmo com a pesca ilegal, porque as embarcações que eles levaram era o meio do redondeiro combater a pesca predatória que o Estado não consegue exterminar", afirma Maurício Valente, da Associação Comunitária Monsenhor Diomedes, na Praia da Redonda.
Ontem à tarde os pescadores artesanais reuniram-se em assembleia para pedir a devolução dos barcos e mais fiscalização da pesca predatória. Durante toda a manhã de ontem, e até o fechamento desta edição, a reportagem tentou contato com a Polícia Federal, em Fortaleza, pelos telefones do Gabinete da Superintendência e da Assessoria de Comunicação, mas não obteve retorno.
Fique por dentro
Guerra da lagosta
É o conflito sangrento que tem preocupado autoridades públicas e, principalmente, as comunidades de Icapuí. A "guerra" é entre pescadores artesanais, que utilizam equipamentos permitidos por lei, e os "alternativos", ou predadores, que usam equipamentos ilegais. Para combater a pesca predatória, os legais fiscalizam por conta própria os ilegais, causando revolta destes, visto essa vigilância ser responsabilidade do Ibama.
Fonte: Diário do Nordeste
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