O vazamento de petróleo em uma área de exploração da Chevron na Bacia de Campos completou dez dias com muitas informações desencontradas e nenhuma preocupação das autoridades em medir os impactos ambientais.
O ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc sobrevoou nesta sexta-feira o local exato do vazamento, a 120 quilômetros da costa, e diz ter visto 'borbulhas no mar', que indicariam que o problema ainda não foi solucionado. A petrolífera americana afirma que o volume despejado no oceano diminui bastante e, agora, trata-se apenas de 'gotejamentos ocasionais'.
Há divergência também sobre a extensão atual da mancha de óleo, que chegou a atingir 160 quilômetros quadrados. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) diz que a área afetada é de 12 quilômetros quadrados. A medição da Chevron indica 1,8 quilômetro quadrado. Minc avalia que a dimensão é 'muito maior' do que foi informado.
Pouco se falou dos danos causados ao meio ambiente. Um cruzamento do dados realizado pela ong Greenpeace mostra que o acidente pode afetar a vida de pelo menos seis espécies diferentes. As mais afetadas pela mancha são a jubarte, a cachalote e a piloto-de-nadadeiras-curtas. Baleias do tipo bryde, minke-anã e franca, porém, também correm o risco de nadar de encontro à mancha (ver mapa abaixo). “A Chevron terá de pagar pelos impactos causados no meio ambiente”, disse o ex-ministro.
Causas - A petroleira evita falar das causas do acidente antes do final das investigações. Admite, no entanto, erro de cálculo na pressão. "Nós subestimamos a pressão no reservatório. Era mais alta do que esperávamos. O peso da lama foi programado para outra pressão", afirmou George Buck, presidente da Chevron Brasil, em uma entrevista que não pôde ser nem gravada e nem filmada. Ele também não soube explicar porque houve vazamento do óleo em um trecho específico da tubulação, conforme mostrou o vídeo divulgado pela ANP.
A Polícia federal apura a informação de que o poço foi perfurado em uma extensão 500 metros além do permitido. Sete funcionários da Chevron foram intimados a dar esclarecimentos na próxima semana, inclusive os engenheiros que trabalham na plataforma.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Marinha do Brasil (MB), se juntaram para acompanhar as investigações do caso. Os órgãos dividiram as funções. Assim, a ANP será responsável por apurar as causas do acidente e fiscalizar a contenção do vazamento; o Ibama deverá avaliar as ações da empresa para minimizar os danos ao meio ambiente, e a Marinha olhará as condições de segurança marítima da plataforma, além de disponibilizar navios e helicópteros para o acompanhamento das atividades.
O poço com problemas está no campo de Frade, na Bacia de Campos. Sua capacidade de produção é de 75 mil barris de petróleo por dia, que lhe garante o posto de oitavo maior campo do Brasil. O empreendimento é controlado em sua maior parte pela Chevron, que detém 52% das ações. Mas Petrobras e o consórcio japonês Frade Japão, ficam em segundo e terceiro, com 30% e 18% de participação.
Histórico - O caso não é o primeiro incidente do gênero no Brasil. A história da indústria petroleira no Brasil guarda em sua história tragédias como a explosão da plataforma P-36, da Petrobras, em março de 2001, que deixou 11 mortos, e um duto que se rompeu na Baía da Guanabara e despejou 1,3 milhão de litros de petróleo em janeiro de 2000.
Se comparado ao vazamento ocorrido em uma plataforma da BP no Golfo do México, no ano passado, o caso do Campo de Frade é de pequenas proporções. "Mesmo assim é preocupante. Acidentes na cadeia de petróleo sempre causam impacto”, diz o ambientalista Carlos Bocuhy. Um detalhe que une os dois casos, porém, é que tanto BP quanto Chevron contrataram a mesma empresa terceirizada para a perfuração de poços, a Transocean.
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