O recente registro de tsunamis próximos ao Brasil, como o que ocorreu no final de fevereiro no Chile e no início do ano, no Haiti, levantou especulações de que o fenômeno também poderia acontecer no litoral do País. Mas de acordo com um dos maiores especialistas internacionais no assunto, é muito remota a possibilidade de que ondas transocenânicas de grande potência e velocidade e com altura superior a 60 metros serem formadas no oceano Atlântico e atingirem a costa brasileira.
“A zona costeira do Brasil não apresenta atividade tsunâmica”, assegura o professor de geologia marinha da Universidade de Barcelona, Miquel Canals. “A região mais próxima do País onde ocorreu uma tsunami recentemente é a do Caribe, onde houve a tsunami no Haiti. E a que apresenta a maior probabilidade de ocorrência de novos tsunamis é o Pacífico”, afirmou ele durante a conferência que apresentou na manhã de hoje (27/07) durante a 62ª Reunião Anual da SBPC – evento que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência realiza até 30 de julho no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal.
De acordo com o especialista, tanto a tsunami que aconteceu recentemente no Haiti como a que ocorreu no Chile foi desencadeada por um terremoto de grande magnitude, que é a principal causa de tsunamis, seguida das atividades vulcânicas. Mas ao iniciar em 1990 pesquisas sobre a geomorfologia das ilhas vulcânicas das Canárias, na Espanha, Canals descobriu um terceiro grande responsável por tsunamis que passou a ser associado cada vez mais a esse evento extremo a partir do final de 2004, quando uma tsunami arrasou a Ásia: o deslizamento submarino.
Caracterizado pela movimentação do solo e de rochas abaixo do nível do mar, que iniciam grandes ondas, segundo o geólogo marinho, o fenômeno está associado a outras causas dos tsunamis, como os terremotos, que costumam anteceder muitos deslizamentos submarinos. “A relação entre a atividade vulcânica e terremotos com tsunamis já é bem conhecida. Mas a vinculação do fenômeno aos deslizamentos submarinos está passando a ser melhor compreendida”, avalia.
Efeitos – Segundo Canals, em 2004 foram registrados, somente na Europa, mais de 240 deslizamentos submarinos, cuja capacidade de gerar tsunamis depende do volume de material deslocado e da velocidade com que eles se encaminham em direção ao fundo do mar, entre outros fatores. Já as principais zonas de deslizamentos submarinos no Atlântico estão situadas em ilhas que apresentam maior atividade vulcânica, como a ilha de La Palma, no noroeste das Canárias.
Em simulações realizadas em laboratórios, os pesquisadores apontaram que o deslocamento da face ocidental da ilha poderia provocar um tsunami de proporções gigantescas que arrasaria metrópoles mundiais como Nova York. Entretanto, de acordo com o especialista, esse seria o pior cenário possível. “Tsunamis são inesperados e imprevisíveis. A pergunta que deve ser feita não se eles podem ocorrer, mas quando acontecerão, e detectá-los rapidamente para possibilitar a adoção de medidas de segurança”.
De acordo com ele, ainda não há um sistema de detecção que possibilite prever sempre potenciais tsunamis, mas os cientistas estão aprendendo, cada vez mais, a interpretar seus sinais. No caso do tsunami que atingiu o Chile no final de fevereiro e que resultou em 521 mortos e 26 desaparecidos, uma equipe de pesquisadores europeus e americanos preveram quando ela ocorreria, além de com qual magnitude e duração. Mas os alertas foram ignorados pelas autoridades do país.
Fonte: Agência FAPESP
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