ROMA — O novo diretor da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva, afirmou nesta segunda-feira que começa uma "nova era" para a agência especializada na luta contra a fome no mundo, durante uma entrevista coletiva nesta segunda-feira em Roma, na sede da entidade.
O brasileiro, que foi eleito no domingo diretor-geral da FAO com 92 votos contra 88 do ex-chanceler espanhol Miguel Angel Moratinos, será o primeiro latino-americano que assumirá o cargo desde a fundação da entidade, em 1945.
"Temos que dar início a uma nova era na organização", afirmou Graziano, que coordenou o programa Fome Zero no Brasil e que era representante regional na América Latina e subdiretor da FAO desde 2006.
"Foi uma eleição difícil, quase um empate", admitiu.
"Sei que houve divisão dos votos entre os países do norte e os do sul, mas isto não significa que os países doadores ou ricos estão contra", afirmou, ao prometer trabalhar sempre com as partes envolvidas para alcançar o consenso.
"Há expectativas para uma melhor governança do mundo", advertiu, ao mencionar as decisões tomadas na recente reunião do G20 em Paris que pedem às várias organizações internacionais que assumam novas responsabilidades.
"Há divergências profundas entre os países. Eu conheço todas. Não devemos negá-las, nas o que deve ser feito é alcançar um acordo mínimo para não paralisar a organização", disse, depois de evitar fazer um balanço sobre a controversa gestão de 18 anos do senegalês Jacques Diouf.
"Não vou comentar a gestão de Diouf".
Para Graziano, é indispensável que as organizações internacionais cheguem a um acordo para atuar, baseado nas "críticas correções" e naquilo que definiu como "open minded" (mente aberta).
O novo diretor-geral da FAO - que assumirá o cargo em 1º de janeiro de 2012 e permanecerá na função até julho de 2015 -, também falou sobre a volatilidade dos preços dos alimentos, do desequilíbrio dos mercados e abordou até as críticas aos biocombustíveis, que segundo ele não devem ser demonizados.
"Acreditamos que a volatilidade dos preços permanecerá por muito tempo, permanecerão altos por não sei quantos anos. É um desequilíbrio relacionado com os mercados financeiros. A especulação vai seguir afetando o mercado, até que os mercados financeiros se normalizem", declarou à imprensa.
Graziano, que recebeu o apoio dos países latino-americanos para vencer a eleição cargo, com exceção do México - que apoiou o candidato espanhol -, anunciou que durante sua gestão dará atenção particular aos países da América Central.
"Tenho uma preocupação especial com o Caribe e a América Central", disse, depois de mencionar as emergências e catástrofes naturais nesta região provocadas pela mudança climática.
"As emergências, as catástrofes naturais, os furacões, etc, que aconteciam a cada sete anos, agora acontecem todos os anos. Não podemos improvisar, e sim envolver a emergência na segurança alimentar", disse.
Questionado sobre um eventual apoio aos biocombustíveis, já que o Brasil é um dos maiores produtores, o brasileiro citou uma frase do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi ministro: "São como o colesterol, há um bom e outro ruim".
"Não apenas no Brasil, mas em outras partes do mundo, há produção de biocombustível que não afeta a segurança alimentar, como no caso da Argentina, com seu excedente de grãos oleaginosos", destacou.
"Não acredito que os biocombustíveis sejam uma bala de prata para usar em qualquer circunstância, mas tampouco devem ser demonizados, apesar de apenas alguns países terem condições de utilizar".
Graziano, que se apresentou como um dirigente simpático e acessível, reiterou que o objetivo da agência é combater a fome no mundo, que segundo dados da FAO afeta 925 milhões de pessoas.
"Quando cheguei para dirigir a sede regional no Chile, fiz uma pesquisa sobre a função da FAO, e me davam respostas muito elaboradas e sofisticadas, mas apenas 10% afimaram que a missão era combater a fome", contou.
"Quero transmitir aos funcionários da FAO que o objetivo é acabar com a fome no mundo e não o das próprias famílias. Não devemos nos desviar", disse.
"É possível erradicar a fome no mundo. Eu quero repetir a todos nossos interlocutores no mundo", concluiu.
Fonte: AFP
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