Por Celso Calheiros
Foto: Uma área de produção na Tailância. crédito: Conservação Internacional
A aquicultura vai continuar a crescer em todo o mundo, é o meio de produção de proteínas que menos impactos ambientais produz, no entanto precisa melhorar bastante os métodos de produção para alterar menos o meio ambiente. Essas conclusões fazem parte do estudo Blue Frontiers: Managing the environmental costs of aquaculture (Fronteiras azuis: gerenciando os custos ambientais da aquicultura), recém publicado em Bancoc pela World Fish Center e pela Conservação Internacional (CI).
O relatório investigou o impacto ambiental dos principais sistemas de produção de aquicultura no mundo e traz dados impressionantes. Conclui-se que a aquicultura é um dos setores de produção de alimentos com maior crescimento no mundo (desde 1970, as taxas médias são de 8,4% e a produção em 2008 atingiu 65,8 milhões de toneladas de acordo com a FAO) . É uma indústria que superou a marca dos US$ 100 bilhões e oferece metade de todos os pescados consumidos – superou o capturado em seu ambiente.
O trabalho comparou necessidades em todo mundo por 13 espécies, em 18 países, cinco tipos de alimentação e diversos sistemas de criação. Foram 75 sistemas produtivos avaliados. Uma das observações é que quanto maior a produção, maior o impacto ecológico. Ainda assim, se comparado à pecuária e à suinocultura, a aquicultura é mais eficiente na produção de quilos de proteína.
Outros dados relevantes apontados no relatório: os frutos da aquicultura contribuem menos para as emissões de nitrogênio e fósforo, logo reduzem o impacto nas mudanças climáticas considerando o alimento produzido. Ao se comparar com a carne suína ou boniva, o produto da aquicultura converte mais proteína do alimento produzido, por isso gera menos desperdício.
Impactos no Brasil
A carcinicultura marinha (criação de camarões) no Brasil, em 1996, teve uma produção inferior a 1 mil toneladas/ano. Em 2003, passou a produzir 90 mil t/ano e, nos anos seguintes, caiu para a casa das 60 mil t/ano. O diretor do Programa Marinho da CI-Brasil, Guilherme Dutra, considera esses números exemplos do crescimento não sustentável. “Esse crescimento rápido se deu a custa de ocupação e do comprometimento de áreas de manguezais e apicuns, fundamentais para a vida marinha e afetou a pesca artesanal nas regiões próximas”.
A atividade, explica o site do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) pode ser desenvolvida com a criação de peixes (de água doce ou do mar), produção de moluscos como ostras, mexilhões, caramujos e vieiras (malacocultura), camarões, caranguejo, siri, rãs, jacarés ou mesmo o cultivo de algas. No Brasil, ela engatinha, tropeça e arrisca seus primeiros passos.
A primeira fazenda marinha, a Aqualíder, foi inaugurada em 2009 para produção de um peixe típico do nosso litoral, o beijupirá. A fazenda fica a 11 quilômetros (mar adentro) da Praia de Boa Viagem, no Recife, tem 48 tanques-redes e planeja produzir 10 mil toneladas do peixe, por ano.
A espécie mais criada no Brasil é a tilápia, com produção nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Na região Norte, a produção maior é de pirarucus e tambaquis. No sul, são criadas carpas, ostras e mexilhões (na região Sul). No Centro-Oeste, a preferência é por tambaquis, pacus e pintados.
O setor tem todas as razões para crescer no Brasil, uma vez que corre no país 12% da água doce do planeja, além de possuirmos 8 mil quilômetros de litoral. A Embrapa em Palmas, Tocantins, pesquisa quais são as espécies mais produtivas e os sistemas de alimentação mais econômicos.
Mundo
A Ásia como um todo, sendo a China um destaque, respondem por 91% da produção de pescado cultivado. A China isoladamente produz 64% do total do planeta. A Europa 4,4%, a América do Sul 2,7%, a América do Norte 1,9% e a África 1,6%.
A carpa é a espécie mais produzida na Ásia e o salmão é o preferido na Europa e na América Latina. As tilápias são o destaque na África (e a espécie começa a ser produzida no sertão nordestino).
As espécies cultivadas que geram maior impacto ambiental são a enguia, o salmão, camarão e pitu, devido ao consumo de energia e à grande quantidade de peixes usados como ração. Na outra ponta, as aquiculturas que geram menos impacto são os mexilhões e as ostras, os mariscos e as algas marinhas.
Embora a China seja líder em volume de produção, tem o que aprender. O estudo chegou à conclusão que os métodos de produção do norte da Europa, Canadá e Chile são mais eficientes do que os dos países asiáticos, em especial na acidificação, mudanças climáticas, demanda de energia e ocupação do solo. A China também tem a aprender quando o assunto é carcinocultura. A criação de camarão na Tailândia é mais eficiente em termos de acidificação, alterações climáticas e demanda energética.
A aquicultura hoje já representa 99% da produção de algas marinhas, 90% das carpas e 73% do salmão consumidos, além de metade do consumo de tilápias, bagres, mariscos, caranguejos e lagostas.
Além do relatório, um documento sugere políticas públicas, modelos de organizações de desenvolvimento, recomendações ambientais e para os profissionais da indústria de aquicultura. O destaque é o apoio à inovação, a garantia de um marco regulatório que apoie necessidades ambientais. As recomendações são críticas e se aplicam globalmente, mas as distintas realidades regionais imprimem graus diferentes em sua importância relativa.
Fonte: O ECO
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