Normalmente, nesta época do ano Éric compraria 30 toneladas de marisco por dia dos barcos pesqueiros locais, porém nesta temporada. Porém desde o mês passado, a unidade de beneficiamento que a família possui a gerações tem andado bem sossegada, tendo dias em que as compras chegam a zero.
"Conseguirmos ir até à Lua e voltar já quantas vezes?", pergunta, ao ver uma vídeo-reportagem de petróleo a jorrar do derrame subaquático. "E não conseguimos tapar uma porcaria de um poço!"
Uma grande porção do mar e da costa estão fechados para a pesca devido ao vazamento de petróleo que se iniciou dia 20 de abril. A produção de ostras, siris e peixes de um modo geral chega a metade da produção normal registrada para esta época. Os camarões a apenas 25% do normal. As exceções são o atum e o pargo que são capturados mais afastados da costa.
A captura de camarão declinou em 75%.
(Foto: Chris Bickford - the New York Times)
Nos Estados Unidos ainda não se sente ainda uma significativa falta de pescado, pois cerca de 80% do pescado consumido no país é importado. O estado da Lousiana, o mais atingido pelo desastre é responsável por 2% do pescado consumido no país, segundo o National Fisheries Institute.
Mas a mancha negra está a causar o caos nesta região que representa cerca de 30% da indústria de pescado americana e que rende aos cofres estaduais cerca de 2,4 bilhões de dólares por ano.
Do setor dependem diretamente 27 mil postos de trabalho.
Até o momento, técnicos ambientais de Lousiana ainda não detectaram nenhuma evidencia de que o petróleo causou a contaminação a algum fruto do mar. Mas a interrupção preventiva dos cultivos de ostra, viveiros de camarão e criadouros dos caranguejos em locais onde se encontrou petróleo tem tornado ociosa a vida de milhares de pescadores.
A BP contratou tantos barcos de pesca para apoiar as operações de limpeza que até nas áreas abertas para a pesca a atividade não tem sido tão intensiva quanto se esperava.
As imagens de mancha de óleo no mar e seu aglomerado ao longo de 12 mil quilômetros de costa do estado tem causado pesadelo nas relações públicas a indústria de pesca da Lousiana.
Alguns compradores partem do princípio que os produtos em oferta estão contaminados com óleo e simplesmente se recusam a comprar qualquer pescado que esteja associado a Lousiana ou Golfo do México, revela um atacadista de pescado.
"A imagem do produto está manchada" diz um executivo de uma empresa de pescado da região.
Algumas empresas de beneficiamento de pescado dizem no entanto que o maior impedimento a atividade não é o petróleo e sim a falta de pescadores para atuarem nas áreas ainda abertas a pesca.
"Estamos a funcionar a 10-20% de nossa capacidade de captura" diz o dono de uma empresa que costuma criar e beneficiar ostras na região e que segundo ele apesar do estado não ter encontrado provas de que as ostras tenham sido contaminadas, não consegue encontrar quem lhe recolha dada a grande quantidade de embarcações que foram alugadas pelas empresas petrolíferas.
Entretanto, a mancha de petróleo e os dispersantes estão a aproximar-se dos viveiros de ostras e muitas empresas temem que a poluição seja empurrada para o interior pelas tempestades tropicais, matando as larvas de que a produção do próximo ano depende. Como 4% a 10% das ostras consumidas nos Estados Unidos vêm do Luisiana, as faltas são inevitáveis se os encerramentos continuarem, dizem os produtores de ostras.
Um aspecto vantajoso para os produtores de marisco é o fato de que a escassez fez subir os preços. O camarão cinza pequeno, por exemplo, triplicou de preço no último ano. O preço das ostras também subiu em certos lotes nas últimas semanas, subindo mais de 20% em outros locais.
Ainda assim, muitos produtores dizem que devido à constante alteração dos planos para fechar determinadas áreas de pesca e captura, não compensa investir em mão-de-obra e combustível para ir ao camarão, que pode ter fugido da área, ou recolher ostras que podem ter sido contaminadas.
Em vez disso, muitos pescadores aceitaram o cheque de 5.000 dólares da BP (um depósito inicial que a petrolífera pagou voluntariamente como compensação por danos futuros) e aguardam no cais o que vai acontecer.
Os que se dedicam sobretudo ao atum ou ao pargo ainda estão a fazer grandes capturas , muito além das manchas de petróleo, mas estão com grandes dificuldades em convencer os compradores de que o pescado está limpo.
Só 6 das 10 embarcações saem para o mar, diz, mas "as que saem voltam abarrotadas", diz Maginnis, diretor de uma empresa de atuns.
Apesar da grande quantidade de peixe no mar, muitos capitães não conseguem formar equipagens. "Estão a receber dinheiro da BP para não trabalharem", sublinha.
Só 6 das 10 embarcações saem para o mar, diz, mas "as que saem voltam abarrotadas", diz Maginnis, diretor de uma empresa de atuns.
Apesar da grande quantidade de peixe no mar, muitos capitães não conseguem formar equipagens. "Estão a receber dinheiro da BP para não trabalharem", sublinha.
Chris Bickford (The New York Times)
O maior impacto do vazamento foi sentido por quem captura e beneficia camarão. Bo Thibodeaux, de 43 anos, capitão de uma embarcação de arrasto de camarão, de Dulac, saiu numa pequena embarcação com o filho Evan, de 17 anos. Diz que, desde que se deu o derrame, saiu duas vezes com o seu barco de 43 pés, o Bull's Prize, mas que não conseguiu apanhar camarão em quantidade suficiente para compensar o combustível.
"Vamos tentar apanhar o pouco que sobrar" diz, enquanto apronta o barco e o filho calça as galochas de borracha branca. Diz que antigamente conseguia apanhar, nesta altura do ano, cinco a sete toneladas de camarão.
Agora, as redes apanham sobretudo água, porque as áreas de pesca de camarão que ele explora estão fechadas.
"Maio é a época do ano em que ganhamos dinheiro", declara. "Não sei o que fazer. Acho que vou à procura de emprego."
Fonte: The New York Times
Nenhum comentário:
Postar um comentário