quinta-feira, 24 de junho de 2010

Indonésia: Pesca artesanal de baleia

Abaixo interessante reportagem de julho de 2007 (Mail Online) sobre a comunidade de Lamalera na Indonésia, que pesca baleias cachalotes de forma bem rústica e que são em determinada época do ano o principal sustento de toda a comunidade local.

Remete-nos não só a captura de baleias mas a qualquer recurso pesqueiro e a importância do equilíbrio necessário entre preservação e a exploração do recurso vivo de forma sustentável.

Os Pescadores que capturam baleias com as próprias mãos


Por Bona Beding (Tradução livre: Maurício Düppré)

O modo de vida é o mesmo há centenas de anos: um grupo de habilidosos pescadores que utilizam apenas a coragem e seus corpos para capturar cachalotes de até 25 metros de comprimento que fornece alimento e materiais para a aldeia inteira.

Estas incríveis imagens foram feitas durante uma pesca de baleia em um dos poucos locais do mundo onde se ainda utiliza métodos artesanais para se capturar estas imensas criaturas marinhas.


Sem arpão ou barco a motor, pescador arrisca-se a morte em uma pescaria que pode garantir alimento para toda sua aldeia (Foto: Bona Beding / Mail Online).

Estes pescadores batalham mais de 6 horas empunhando facas tradicionais para golpear a baleia, chamada por eles de Koteklema. Assim, os pescadores de Lamalera (uma vila situada na porção sul da ilha Lembata, na Indonésia) matam sua presa com as próprias mãos.

Cada barco é feita a mão, sem pregos ou partes de metal e as velas são feitas de folhas de Gebang. Os cabos são feitas de folhas de palmeiras e fibras de madeira (Waru) trançados em conjunto.



Dois barcos de pesca trabalham juntos e seus capitães (Lamafas) manejam lanças contra a cachalote e ficam no ar em plena costa da Indonésia. (Foto: Bona Beding / Mail Online).


Não utilizam nenhum outro apetrecho, no ritual secular de caça a baleia, transmitida de geração em geração.

A pobre ilha, por ser bastante pedregosa tem pouco de agricultura, por isso a sua população depende principalmente do mar, que é abundante em marlins, atuns, arraias, tartarugas, polvos e lagostas.

Durante a Lefa Nue (Temporada de maio a outubro) os aldeões pescam baleias, tubarões e golfinhos.

No entanto a comunidade tem medo com o seu futuro, pois cada vez menos ocorrem pescas bem sucedidas de baleias nos últimos 5 anos. No ano passado pescaram apenas 3 koteklemas.

Os aldeões culpam a falta de harmonia entre as tribos pela constante falta de sucesso: “Se não há paz entre nós, não há boa caça de baleias” disse o aldeão Anna Bataona.

A pesca de baleia no Mar de Sawu, a Oeste de Timor é uma tradição ligada a todos os aspectos da vida em Lamalera.

O povo local acredita na harmonia entre a vida no mar e na ilha. Paz na terra garante uma boa pesca no mar.

Se o pescador (Matros) navega sem fazer as pazes com seu irmão ou inimigo seu barco enfrentará problemas durante a pesca.

As pescarias são comandadas pelo Lamafa (Capitão) que se purifica durante a temporada de caça as baleias (seis meses) abstendo-se de sexo. Eles também são proibidos de dormir enquanto durar uma viagem de pesca.

Rofinus Sanga Sulaona, 47 anos, é um dos mais habilidosos Lamafas. Ele já matou 35 cachalotes e sua presença a bordo é considerado garantia de uma boa pescaria.

Sua embarcação de pesca (peledang) que acomoda 16 homens, chamada Dolu Tene, é famosa entre os pescadores de Lamalera.

O Lamafa salta do barco segurando a “Kefa” (uma vara de bambu com uma lamina de aço na ponta funcionando como um dardo) que ele utiliza para perfurar a baleia antes de nadar de volta ao barco e pegar outra kefa.

Os pescadores trabalham como uma equipe esfaqueando o dorso da baleia e trabalhando com os cabos em torno de seu corpo maciço. Os pequenos barcos, insignificantes e inferiores em comparação a baleia, correm o risco constante de serem adernados por uma única batida de cauda.


Com apenas um choque de sua cauda a baleia pode deixar um pescador inconciente (Foto: Bona Beding / Mail Online).

Movendo-se rápida como uma lancha, a baleia arrasta os barcos pela água e reagindo com espasmos a cada kefa que é lançada contra seu corpo. A gordura da baleia, cerca de 30 centímetros de espessura, exige um grande esforço dos pescadores para se atingir a carne macia por baixo.

Mais barcos de outras tribos juntam-se no esforço desesperado de domar a baleia. Cada salto sob a baleia pode ser o ultimo do Lamafa que pode ser abatido pela cauda da baleia que o deixará inconsciente no mar.

Pode parecer uma forma cruel de caçar, mas o Lamafa Korolus ressalta “Não temos outra escolha, precisamos da Koteklema para sobreviver”.



Os pescadores golpeiam a baleia com profundidade para ultrapassar a camada de gordura e chegar até a carne macia do animal (Foto: Bona Beding / Mail Online).

Quando a baleia desiste de lutar, aplausos surgem nos barcos junto aos vitoriosos gritos de “Hirkae!”

Nesta ocasião os Pescadores de Lamafera caçaram tantas baleias quanto no ano anterior inteiro. “É por que nos conciliamos seriamente e sinceramente” diz Sanga.


Como Lamafa, Sanga recebeu os primeiros cortes da carne de baleia, mas ao invés de levar para sua casa foi na casa do Lamafa anterior, Stefanus Beding, e entregou parte a sua viúva.


“Ele me ensinou as habilidades, a disciplina e a ética de ser um Lamafa” disse “Enquanto sua viúva viver darei metade de minha parte a sua família”.



A carcaça de 25 metros de uma cachalote é descarnada na praia para a alimentação da comunidade (Foto: Bona Beding / Mail Online).

O restante dos cortes de carne são distribuídos entre os pobres e idosos da aldeia com a convicção de que a harmonia no seio da comunidade garantirá boas capturas no futuro.

Mas, com o desaparecimento dos estoques de baleia e a competição com tecnologias mais modernas, utilizadas pela frota japonesa com barcos velosos, explosives e arpões, pergunta-se quanto tempo mais durará esta notável tradição?


Fonte: Mail Online

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