A existência de uma população considerável de focas nas zonas de pesca está, em parte, na origem da baixa captura do pescado no Tômbwa, afirmou, ao Jornal de Angola, o delegado marítimo da Capitania do Porto do Namibe.
O Tômbwa, referiu Ventura Pedro, já foi um importante centro de pesca, mas, nos últimos tempos, tem havido grande falta de peixe no mar, o que levou o Ministério das Pescas a impor limites.
Apesar disso, sublinhou, as capturas têm diminuído devido ao elevado número de focas.
Os pescadores do Tombwa, quer os da pesca artesanal, quer os da semi-industrial e industrial, afirmou, garantem que as focas são as principais responsáveis pelos baixos níveis de captura.
“O Executivo, a seu tempo, vai tomar medidas, sem acabar com as focas, que permitam aos pescadores desenvolver a actividade com outros resultados”, disse.
A paralisação das infra-estruturas em terra para tratamento, conservação e transformação do pescado não está na base da redução dos índices de pescado no município do Tômbwa, afiançou, adiantando: “Temos duas unidades com capacidade muito grande para recepção do pescado e uma fábrica de farinha, que se encontra inactiva por não haver peixe”.
Infra-estruturas em terra
O director provincial das Pescas no Namibe é de opinião que a falta de infra-estruturas de apoio à pesca para a recepção, transformação, processamento, conservação e comercialização de forma adequada, também está na base do reduzido nível de captura.
Para grandes capturas são necessárias infra-estruturas de apoio, pois sem elas o peixe acaba por se estragar em terra, disse Isaac Kativa, frisando:
Há um esforço muito grande do governo para o relançamento da indústria pesqueira no Tômbwa, mas não tem havido correspondência entre a renovação da frota, feita anualmente, e as infra-estruturas de apoio. “Podemos ter muitas embarcações, mas se não tivermos infra-estruturas de apoio à actividade de produção, continuamos a ter os mesmos problemas, pelo que é preciso algum investimento em terra para haver equilíbrio entre a capacidade de captura, recepção, processamento, armazenagem e comercialização interna”.
“O reduzido número de infra-estruturas de apoio à pesca faz com que os pescadores regulem o processo de captura de acordo com a capacidade de recepção do produto em terra”, alertou.
O director provincial Isaac Kativa lamentou que das 60 empresas registadas a sul da vila do Tômbwa apenas 24 estejam em funcionamento devido a várias situações registadas nos últimos anos.
O município do Tômbwa, disse, precisa de barcos industriais e semi-industriais, já que os que tem são na maioria pequenas embarcações a remo.
Lamentos e memórias
A paralisação de empresas de pesca, logo após serem privatizadas, é referida por vários homens do mar como a principal causa da redução dos índices de pescado no município do Tômbwa. Mário Bernardo, técnico de frio da única empresa do sector em actividade, disse, ao Jornal de Angola, que as privatizações nem sempre tiveram em conta a capacidade financeira e de realização dos novos proprietários, muitos deles sem qualquer experiência do mar.
Mário Bernardo, que vive no Tômbwa há 40 anos, conta que “antigamente havia muito peixe e as populações viviam bem”, ao contrário do que acontece hoje devido à reduzida captura.
“Não sei se é mesmo devido à paralisação das empresas de pesca ou se é o clima, pois há alguns anos não fazia tanto calor como agora e o peixe abundava no mar, não havia tanto desemprego”, recordou, lamentando: “Há muito desemprego e as pessoas não têm outras fontes de rendimento, pois o Namibe é uma província desértica e a maior parte da população vive do peixe”.
O técnico de frio sugere que se invista um pouco mais na reabilitação das empresas de pesca porque só assim pode haver mais emprego e outras formas de captura de pescado e de combate à fome e pobreza. Mário Bernardo alerta para a necessidade do rigor no investimento às empresas “para não se voltar a dar dinheiro a pessoas que não entendem nada da pesca e se invista naqueles que demonstrem conhecimentos”. A empresa Pestômbwa, recordou, era uma grande empresa de congelação de pescado, que está completamente abandonada para desagrado das populações locais, hoje atiradas para o desemprego por se terem feito apostas pouco rigorosas de gestão.
Com a paralisação das fábricas de farinha de peixe no Tômbwa, voltou a lamentar, muitos dos seus trabalhadores estão em casa sem recursos de subsistência, dedicando-se a pequenos negócios que não lhes permitem viver com a dignidade que já tiveram num passado não muito longínquo.
“Os pescadores do município do Tômbwa já foram a nata do bem viver entre as populações locais”, rematou o técnico de frio Mário Bernardo, visivelmente agastado com a actual situação.
Fonte: Jornal de Angola
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