terça-feira, 15 de maio de 2012

Pesca da tainha em Florianópolis conta com pequenas tecnologias da vida moderna


A canoa de um pau só é centenária, mas as rodinhas que vão conduzi-la com mais facilidade ao mar acabam de ficar prontas. A estreia delas – nesta terça-feira, 15 de maio, quando começa mais uma temporada de tainha – é um avanço na rotina dos pescadores da Barra da Lagoa, em Florianópolis: prova que nem uma tradição que ultrapassa gerações consegue resistir às pequenas tecnologias da vida moderna.

O uso das rodinhas dará fim ao ritual de empurrar o barco de quase uma tonelada pela areia – um esforço descomunal que envolvia quase 20 homens. O tempo – o precioso tempo – que isso levava também estará em jogo. Se antes ele levava quase 10 minutos para fazer o barco alcançar o mar, agora o tempo deve ser reduzido pela metade.

– A tainha é rápida. Ela está ali, mas daqui a dois minutos já está lá adiante. É preciso estar atento a cada segundo. Essas rodinhas farão toda a diferença para nós – conta o pescador Marcio Vieira, 40 anos.

Radioamador é um dos aliados

E assim, aos poucos, a modernidade vai entrando na rotina de quem vive da pesca. Também foi-se o tempo em que o olheiro balançava uma camiseta branca para alertar a proximidade do cardume. Agora é tudo no radioamador: ele consegue avisar aos colegas, inclusive, o ponto exato onde os peixes estão e o melhor local para o barco se posicionar no mar.

– Tudo o que vem para nos ajudar é bom. Mas não dá para interferir muito na tradição. Nem queremos isso. A tainha é um peixe famoso, quem vem de fora quer ver isso aí, não quer modernidade – lembra Marcio.

GPS e sonda no caça de malha
Dentro da pesca artesanal, os chamados barcos caça de malha são os mais inovadores. As duas embarcações do pescador Gentil Cabral, 54 anos, não entram no mar sem um GPS e uma sonda – equipamentos eletrônicos que indicam a orientação de sentido e o que acontece quilômetros debaixo do barco em alto mar. Com eles, as bússolas foram aposentadas.

– Às vezes, o olho não funcionava. A gente se perdia no mar e acabava se enganando com o posicionamento do cardume. Agora, com essas modernidades, não tem mais erro. Hoje, todo mundo tem isso nos barcos. Tem que ter. Precisamos estar tão atualizados quanto a concorrência, ou ficamos para trás.

Incentivo a melhorias

O uso de tecnologias na pesca é lento. Isso porque muitos pescadores são resistentes a mudanças. A própria Federação dos Pescadores de Santa Catarina incentiva iniciativas. Segundo o presidente do órgão, Ivo da Silva, existe um projeto em andamento que prevê, por exemplo, o uso de tratores e guinchos para puxar o barco que volta do mar com os lanços – o que, hoje, acontece apenas com os barcos caça de malha. Em parceria com a Secretaria da Agricultura e da Pesca de SC, a iniciativa já está aprovada e entra em funcionamento na próxima safra.

– São pequenos avanços que fazem toda a diferença. O importante é que o principal, a base da pesca tradicional, continua intacta – defende Ivo.

Saiba mais

  • A pesca da tainha é uma das mais esperadas de Santa Catarina. É uma safra festiva, quando muitas pessoas vão às praias para acompanhar o trabalho dos pescadores.
  • Ela começa com a chegada do frio, quando os cardumes vêm em busca de águas mais quentes.
  • Só na Grande Florianópolis, cerca de 3 mil pescadores estão envolvidos diretamente com a pesca da tainha. No Estado, o número sobe para 20 mil.
  • O principal criadouro brasileiro de tainhas é a Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. Elas saem do litoral gaúcho e seguem para o litoral do Rio de Janeiro em busca de águas quentes para desova.
  • Cerca de 60% do total de tainhas pescadas no litoral brasileiro são capturadas em águas catarinenses.
  • O período de defeso da tainha em Santa Catarina termina na terça-feira da semana que vem, dia 15 de maio. A partir desta data está liberada a pesca da espécie nas praias de todo o litoral.

Fonte: Zero Hora
Autora: Sâmia Frantz

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