Pescadores artesanais da região do Estuário da Lagoa dos Patos e representantes das principais entidades envolvidas com a atividade discutiram durante a quarta-feira, 13, os resultados do censo da pesca, apresentados em workshop promovido pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg), no Cidec-Sul, Campus Carreiros.
O censo foi uma das atividades do Projeto "Estudo Técnico-Econômico da Pesca Artesanal no Estuário da Lagoa dos Patos", realizado a partir de convênio entre a Furg e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). O projeto envolve os Institutos de Oceanografia (IO) e de Ciências Humanas e da Informação (ICHI) da Furg, com a coordenação dos professores doutores Daniela Kalikoski e Marcelo Vasconcelos.
Os dados apresentados, inéditos no País, representam o conhecimento aprofundado sobre a realidade da atividade nos municípios do Rio Grande, São José do Norte, Pelotas, São Lourenço do Sul, Camaquã, Arambaré, Tapes, Tavares e Mostardas e poderão subsidiar ações para a sustentabilidade da pesca artesanal. Pelo convênio com a FAO, os resultados integrarão levantamento mundial sobre a pesca artesanal.
Entre os principais dados discutidos no workshop está o número de pescadores artesanais levantados pelo censo da pesca nos nove municípios que margeiam o estuário da Lagoa dos Patos: 3.325. “Abaixo das informações que existiam, porém, já esperávamos algo nessa magnitude”, afirma a professora Daniela. Antes do censo, as informações que circulavam na Região Sul do Estado apontavam até 15 mil pescadores artesanais.
Outra controvérsia está no total de dependentes da pesca levantados pelo censo, 3.974, que ultrapassa em pouco o número de pescadores. Essa pequena diferença “foi muito surpreendente, pois indica que provavelmente os filhos desses pescadores não estão indo para a pesca”, diz.
Renda
A renda obtida pelos pescadores é outro dado que chama a atenção, na opinião do professor Marcelo Vasconcelos. Para 50% dos pescadores a renda média está na faixa do salário-mínimo. Número que chega a 90% quando a safra é ruim. Para os pesquisadores, a condição sócio-econômica é resultado da redução dos estoques pesqueiros e da concorrência com pescadores ocasionais, fatores que reduzem a produtividade.
Diante da baixa renda, o censo revela a importância dos benefícios recebidos pelos pescadores, como o Bolsa Família e o seguro defeso, na manutenção dos lares. “São chaves para não migrarem para a área de pobreza”, afirma Daniela. Os benefícios, porém, segundo a pesquisadora, expõem outro problema enfrentado pela categoria: dos que se declaram pescadores, apenas para acessar os recursos repassados pelo governo.
Sobre a produtividade, o censo aponta uma diferença bastante significativa entre o declarado pelos pescadores na pesca de espécies como camarão, corvina e tainha, e o registrado pelos órgãos governamentais. No caso da tainha, os números oficiais chegam a ser quatro vezes menores do que os levantados pelo censo. “Isso demonstra o quanto são subestimados os dados oficiais”, afirma Daniela.
Fonte: Jornal Agora
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