A partir deste sábado vou, enfim, relatar a incrível experiência vivida por mim e meu amigo Gustavo “Fino” que durou 9 dias e 8 noites atravessando o Everglades National Park numa canoa a remo. A cada sábado postarei o relato de um dia de jornada.
Mapa Everglades National Park
Bom, não vou começar o relato da jornada falando dos preparativos.
Idealizamos a viagem, sonhando com ela a muito tempo, pois o camarada Gustavo Fino, que morou por longos anos na Florida, estudando na Universidade de Miami, já havia remado algumas vezes no Everglades, mas no máximo 6 dias e nossa vontade era cruzar o parque, em 9 dias, algo em torno de 99 milhas! Bom demais!
Melhor seria se estivesse em forma, remando regularmente como fazia até meados de 2008, mas agora já era! Tivemos resposta do empréstimo da Canoa do Sr. Harrison “The Captain”, na semana anterior a viagem compramos as passagens na terça, viajamos na quinta e no domingo cedo estamos indo de Miami até Flamingo para iniciar a jornada.
Graças a hospitalidade da Sra. Marta Harrison e dos empréstimos da canoa, remos e alguns utensílios do Sr. Chris Harrison, além é claro de seus sábios conselhos de quem rema nada menos que 40 anos no parque estamos aqui hoje, dia 13 de fevereiro de 2011 para realizarmos nosso sonho.
Temos que agradecer também a remadora Goshka, pois sem ela o carro que alugamos não voltaria a Miami.
Abaixo o relato realizado durante a travessia, anotados ao termino de cada dia num caderninho de viagem ou no início do outro dia.
DIA 01 – 13/02/2011 – TRECHO: FLAMINGO até EAST CAPE (10 milhas)
Final do 1º dia. A lua está tão clara que estou escrevendo apenas a luz dela. O dia foi incrível e agora estamos em East Cape, a menos de 5 metros da água, com nossa canoa na areia, mantimentos e tudo o mais. Acabamos de comer um churrasco com uma grelha improvisada e madeira seca do local, nos pontos de campings na praia são permitidos fazer fogueiras, desde que na linha entre marés.
Chegamos aqui às 17:20 depois de fazermos 10 milhas em quase 4 horas, a nosso ver excelente tempo e ótima remada que ainda tiveram ventos e correntes ao nosso favor. Valeu pelo primeiro dia, vimos um pôr do sol maravilhoso e uma tartaruga cabeçuda gigantesca a poucos metros da praia. Como estou escrevendo de trás para frente, amanhã continuo e lerei o que escrevo aqui, para ver se entendo, pois tem luz mais é da lua! E complemento o que faltou contar se é que dá para contar tanta coisa incrível passada em um só dia, o primeiro dia! E amanhã deverá ser outro dia único.
LEMBRANÇAS DO DIA 0 – 12/02/2011 – SÁBADO - MIAMI
Arrumação
das coisas varou a madrugada e tive dificuldades em resumir minha bagagem em 1 container
(compramos 4 containers, 1 para cada remador e 2 para os mantimentos). Já às 3h
da madrugada fomos dormir um pouco para acordar às 6h e colocar a canoa, os 4 containers,
2 cadeiras de praia, 16 galões de água, barraca, lonas, caixa com 12 garrafas
de vinho, remos, baldes, cabos, material de pesca....
Meu aniversário! 35
anos!
Muita correria para
comprar o que faltava.
Fizemos dois almoços.
Compramos os
mantimentos apenas na noite e com pressa, pois tínhamos ainda que conversar com
o Captain Harrison às 22:30.
Foto: Mantimentos para 9 ou 18 dias? Detalhe para o cuidado de retirar os alimentos das caixas e embalagens para carregar menos peso e lixo ao longo da jornada.
LEMBRANÇAS DO DIA 1 – 13/02/2011 – DOMINGO – MIAMI X FLAMINGO X EAST CAPE
Acordamos cansados,
mas ansiosos.
Arrumação do carro e
colocação da canoa levou 1 hora, pois ainda discutimos a melhor maneira de
dispor os containers e demais tralhas na canoa e forma que desse melhor estabilidade (mais peso
no meio) e distribuísse bem o peso entre os bordos da canoa.
Foto: Testando a melhor forma de disposição dos conteiners na canoa.
Foto: Tudo no carro, thanks Captain Harrison! Bora buscar a motorista.
Oito em ponto
estávamos pegando a Goshka em sua casa conforme o combinado, ela tinha
compromisso em Miami e por isso tinha pressa de voltar.
Ainda tivemos que ir
ao mercado para comprar o restante das coisas, como o grill portatil, pois
segundo o Fino, um churrasco na praia depois de um dia de remada é um luxo somente
possível nos primeiros dias.
Apenas no caminho
entre Miami e Flamingo paramos para tomar um café com sanduiche.
Chegamos a Flamingo
por volta das 11h, O Fino foi logo ao Ponto e Controle para marcar os pontos que iríamos
pernoitar, enquanto eu e Goshka começamos a descarregar o carro e colocar tudo
no deck, a começar por botar a canoa na água, seja bem vinda ao Everglades!
Foto: Dock em Flamingo, canoa na água!
Foto: Tudo no pier, é arrumar e partir. Obrigado Goshka!
Tudo pronto! Permissão concedida, chegou a hora!
Foto: Everglades National Park Wilderness Permit - locais de dormida já estabelecidos, não podemos falhar!
Levamos nada menos que
2h para arrumar tudo, amarrar e enfim começar a remada!
Foto: Equipe "Tonsegui" (Juca, 2011) pronta. "Tonseguimos!"
Simplesmente nunca
havíamos remado os dois apenas e neste tipo de canoa.
Alguns ajustes
mas nada muito sério ao longo dos primeiros dias.
Logo na saída de
Flamingo uma revoada de centenas de pequenas aves marinhas nos deram as boas
vindas. Momento guardado na cabeça, pois não paramos para tirar fotos,
queríamos remar!
Área muito rasa e com
muita planta aquática que nos fez desistir da ideia de passar por entre a ilha (Bradley
Key) e a costa.
Foto: Enfim remando! "Até um pé nas costas nos empurra pra frente."
Cruzamos um grupo de
caiaques que fizeram East Cape até Flamingo em 5 horas.
De Flamingo (Visitor
Center) até uma praia milhas depois fizemos 1:30h o que nos deixou muito
confiantes, pois se aquela praia era mesmo Clubhouse havíamos feito 7 milhas e
faltava apenas 3 para East Cape!
Foto: Clubhouse ou perto de.
Realmente até aquele
momento o vento e as ondas estavam a nosso favor e nos ajudavam muito, mas ao
retornar ao remo depois de almoçar na praia (água, banana, uva e uma barra de
cereal pra cada).
Foto: Clubhouse
Vimos 1 hora depois de
uma remada puxada com maré contra nos jogando para fora da costa que apenas
ali, 1 hora depois era Clubhouse. Portanto 2:30 de remada para 7 milhas, então
faltam ainda 1/3 ou cerca de 3 milhas.
Na praia, procurando
conchas e bichos deparamos com um dente de crocodilo!!!
Foto: Dente de crocodilo, eles existem!
Nesta hora a remada já
não estava tão fácil, mas o vento insistia em nos ajudar e com ele a ondulação.
Foto: Rumo a East Cape
Depois de sair às 13h
de Flamingo e parar por 30min para almoçar, às 17:20 estávamos desembarcando em
East Cape, 1 hora antes do primeiro por-do-sol espetacular.
Foto: East Cape Camping Site, fim do dia 1
Ficamos ali
contemplando o visual, tomando o banho do dia com água salgada, o sol foi a lua
ainda não havia chegado e tava tudo bagunçado! Não conseguíamos achar nada e a
presença de mosquitos não ajudou muito. A luz tinha ido embora e tínhamos que
improvisar uma grelha para fazer o tão esperado churrasco, pois compramos o
suporte de grill errado, 3! Mas usamos um deles e trançamos com o fio de arame
que levamos de modo que pudesse sustentar a carne e as lingüiças. Cavamos um buraco
na areia e com madeira seca fizemos uma fogueira que depois virou um braseiro
para assarmos a skirt steak (fraldinha) e as sausages bem apimentadas, pão de
alho, pimentão recheado com queijo mussarela e uma garrafa de vinho tinto Pinot Noir.
Foto: Jantar número 1, churrasco!
Bom, mas estávamos
cansados até para beber, mas ainda tínhamos muito o que arrumar, inclusive a
barraca! Mas antes disso era necessário guardar toda a comida dentro dos
containers para o nosso amigo quati (racoon) ou até mesmo ratos não pegarem.
Fino havia sido avisado pelos guardas que até as garrafas de água os animais
estavam furando, por isso, resolvemos não arriscar e embrulhamos as 16 garrafas
com uma lona.
Com preguiça e sem
vontade de se molhar com a água do mar, enterramos os talheres e pratos na
areia. O lixo acondicionamos tudo em um saco plástico que penduramos em um
grande galho que fincamos na areia.
A noita estava
estrelada, sem nuvens e a lua já iluminava tudo. Mas estava frio, muito
úmidopois o sereno era muito forte, só conseguiria dormir, mesmo que cansado,
dentro da barraca, como cobertor, o pequeno mas ótimo colchão inflável e saco
de dormir, e foi isso que aconteceu.
Poderia aqui ter
recordado o final de tarde improvisado às pressas uma grelha, ao mesmo tempo em
que estava faminto e era devorado pelos mosquitos invisíveis (maruins,
borrachudos, etc), mas prefiro lembrar das coisas boas.
Aliás de vez em quanqo
lembro das pessoas queridas que devem estar pensando em mim nesse momento,
talvez preocupadas pois a previsão era de noite bem gelada (diziam até 0 graus!), por conta de uma
frente fria que por sorte havia acabado de ir embora. E para elas,
telepaticamente, mando sempre notícias imediatas que está tudo ótimo e será assim durante toda a jornada!
Abaixo a distância e a rota percorrida no Dia 1, distância total 12 milhas, ou seja mais do que estava indicado no mapa que tinhamos.
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