Angra dos Reis - Maricultores da cidade que participaram da audiência pública para debater a situação do projeto das fazendas marinhas da Baía da Ilha Grande, realizada segunda-feira no Plenário Benedito Adelino, no Centro, pediram soluções para o setor. Várias entidades estiveram presentes e concordaram que é necessário lutar pela causa, visto que boa parte da população do município vive da pesca.
O ato foi presidido pelo vereador Antonio Edineide Cordeiro, do PT, que solicitou a audiência, com aprovação por unanimidade pelos demais vereadores. Autor da audiência, Cordeiro ressaltou a importância dos maricultores para o município. “O objetivo de fortalecer a atividade no município é com intuito de sanar esse problema. Todos sabem que vem crescendo a produção, onde se faz necessária uma discussão ampla e debates no sentido de fortalecer a atividade em assuntos de interesse regional e estadual, promovendo intercâmbio entre maricultores”, relata o vereador
Segundo o biólogo da Subsecretaria de Pesca, André Araújo, o problema da maricultura em Angra começou com uma mudança brusca de temperatura na água. “A espécie suporta no máximo 27º e no verão de 2009 para 2010 a temperatura da água do mar chegou a 30º, matando tudo e dando altos prejuízos”, diz André.
O único laboratório responsável por produzir as sementes, o Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía da Ilha Grande (IED-BIG), passa por algumas dificuldades.
O prefeito Tuca Jordão não compareceu ao evento por motivo de agenda, mas o secretário de Atividades Econômicas, Jorge Irineu da Costa, o representou e disse que a pesca é uma das prioridades do governo municipal, e falou ainda de outros projetos ligados ao setor, como o da criação do Bijupirá. “Esse segmento traz renda para os pescadores e nós estamos aqui para apresentar soluções para ajudar o setor”, disse Irineu.
O representante do Ministério da Pesca, Henrique Villaça, incentivou a participação do maricultores e revelou que essa discussão é importante para o segmento. “Naquilo que é de competência do governo federal, nós estamos fazendo, estamos trabalhando para o fortalecimento da pesca não só em Angra, mas em todo o país. Santa Catarina teve um problema semelhante ao daqui, mas eles já conseguiram se recuperar e aqui vemos que faltou apoio de algumas partes importantes no processo de recuperação”, afirmou Henrique que frisou ainda que é preciso achar uma forma de reestruturar o Laboratório IED-BIG e que foram repassados pelo ministério R$ 800 mil entre a prefeitura e o laboratório e mais R$ 400 mil serão investidos.
O superintendente do Inea na Costa Verde, Júlio Avelar, fez uma apresentação da evolução e da história do movimento, que começou no Estado do Rio de Janeiro em 1970, na cidade de Arraial do Cabo. Ele disse que de imediato é preciso ter a solução para o retorno do fortalecimento de sementes, o estabelecimento de uma política estadual que contemple ações que fortaleçam a maricultura nos governos municipal e federal. “Se não nos movimentarmos rapidamente, a atividade, que hoje é mínima, vai acabar de vez na Baía da Ilha Grande”, disse Avelar.
Um dos maiores produtores de maricultura do país, Ronaldo de Souza Viana se emocionou na tribuna ao contar que nos últimos 15 anos largou tudo para se dedicar à atividade, investiu muito, vendia para grandes restaurantes de cidades do Paraná, Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, entre outras. “Perdi cerca de 150 mil animais, 300 mil sementes e tive R$ 400 mil em prejuízos. Agora só o conforto da família e dos amigos”, afirmou Ronaldo, segurando as lágrimas.
O representante do IED-BIG, Renan Silva, explicou que hoje não possuem reprodutores e que ficaram por três meses trabalhando como voluntários, pois não recebiam salário. “No ano passado perdemos 12 funcionários, pois ficamos sem o custeio. Tivemos que nos readaptar para produzir com uma equipe menor, porém bem estruturada, graças ao incentivo dado pelo Ministério da Pesca e a ajuda da Eletronuclear e da Petrobras”, disse Renan. Renan explicou que a solução é aumentar a equipe e os investimentos para o laboratório e revelou que existem hoje três desovas no mar e que uma já foi retirada e está excelente. “A Eletronuclear é a única no momento que nos repassa verba, são R$ 37,5mil por mês. Para suprir as necessidades do laboratório são necessários R$ 400 mil por ano”, finalizou.
De acordo com o chefe do escritório regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente(Ibama), José Augusto Morelli, o órgão tem sido espectador dessa situação. “Em 2007, quando nosso escritório se instalou em Angra dos Reis, a maricultura estava no topo, em alta e existiam mais de 80 processos contra essa atividade no município. Nós não achamos justo entrar na questão legal e impedir a maricultura, nós apenas ficamos aguardando. Temos ausência de apoio do poder público para a atividade”, disse Morelli.
O subsecretário de pesca do município de Angra dos Reis, Humberto Martins, explicou que a subsecretaria tem se esforçado muito. “Chegamos a subsidiar equipamentos como lanternas para maricultura, bombonas e poitas para os praticantes da atividade. Mas nada disso adiantou sem as sementes, que são produzidas pelo laboratório. Falta gestão no IED-BIG. Em cinco anos estamos pretendendo gerar de 400 a 500 empregos na área”, ressaltou Humberto.
O presidente da câmara, vereador José Antônio, confortou os maricultores. “Vamos aqui, na casa, aumentar a verba da Secretaria de Atividades Econômicas para incentivar a maricultura”, afirmou o presidente. As pessoas presentes puderam participar fazendo perguntas e as participações eram feitas também por telefone e por e-mail.
O primeiro presidente da Associação de Maricultores de Angra, Eclésio de Jesus Maia, disse que em 2010 não existiam sementes nem para comprar nem para vender. “O dia em que a maricultura acabar a honra de muita gente aqui no meio político acabará também. O dinheiro que as empresas repassa para o laboratório não faz falta para elas. O que é R$ 30 mil para a Eletronuclear ou para a Transpetro? Quero parabenizar a casa e ao vereador Cordeiro, pois em 13 anos esta é a primeira audiência pública para discutir maricultura em Angra, e que não seja a última”, disse Maia.
O representante da Uerj, Marcos Bastos, disse que hoje a maricultura é vista como atividade alternativa, mas que isso irá mudar. “A maricultura será o carro-chefe na região daqui a algum tempo e a pesca se tornará atividade alternativa”, concluiu Marcos.
Fonte: A Voz da Cidade
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